26.12.10

Cala-te! Não me reveles nada. Resigne-se a falar coisas triviais. Estou aqui para compartilharmos nossos corpos e só. O corpo é o único meio para que eu te atinja, por isso minha entrega é total. Se peço para que te cales é porque tu me atinges não apenas no corpóreo, tu me atinges além: no anímico. As histórias que tu contarias certamente me a-tingiriam como insultos, pelo fato de que elas não seriam minhas e porque haveria nelas outros personagens e outras vozes.
Cala-te! e vamos vivendo a experiência entre corpóreo, buscando esse caminho para minimizar nossas distâncias, porque de outro modo não sei me aproximar e suportar a aproximação.
Cala-te! - seria sádico de tua parte fazer ruídos outros além de gemidos e palavras triviais. - Ruídos outros me roeriam!
Cala-te! para que eu não fique em desvantagem tanta.
Cala-te! porque o único meio além do corpo é o silêncio. E, se não suportares silenciar por muito tempo, diz uma frase trivial, mas sem qualquer trivialidade, diz que me ama!

21.12.10

Teatro-íntimo

"Fugaz! tão fugaz e tão intenso, que é um prazer-dor, porque após o pico vem o esvaziar."
Ana Cristina Colla falando sobre o estar em cena, momento em que consegue unificar o 'ser' e o 'estar' e passa a "SERESTAR"

19.12.10

Ontem ela vestia vermelho e tingia-me de verde

17.12.10

Na verdade eu acho que sei o que eu quero. Eu queria mesmo era me servir e não servir ao mundo. Eu queria sim dizer que sou egoísta e burra - isso me libertaria de tantas coisas, tantas. Eu queria fazer como todo mundo quando pretende mudar. Eu queria romper brutalmente, cortar todos os laços, todas as ligações, pra me ser de outra forma. Uma forma que só conheceria decisivamente na práxis, pois idealmente nunca alcançamos nada. Só vivendo alcançaria isso.
Então, deixo aqui o meu fracasso, porque querendo mudar, não sei romper se não for para romper com tudo, contudo, não disponho da coragem necessária a esse rompimento.
Então fico assim: uma quase vitoriosa aos olhos de muitos, mas não aos meus; querendo ser vitoriosa aos meus olhos e só aos meus.
É que me angustia e me fere saber que não entro nos teus planos, que o tempo destinado a mim na sua vida é pouco, é aquilo que sobra, é o resto. E me dói mendigar tanto. Dói perceber, quando comparo com o meu tempo de doação a ti, que aquilo que me doas é nada, é somente o resto. Dói que tu não destines a mim um tempo que não seja mera sobra. Dói.

16.12.10

Já disse isso em outras palavras e num outro canto: sair de mim é a forma mais autêntica de sentir - de me sentir.

12.12.10

"Sossega, sossega - O amor não é para o teu bico"

5.12.10

Se a cada dia, eu beber um pouquinho de sol, terei mais chama para alimentar o meu dia seguinte - e vai valer a pena ter vivido, porque o sol não é algo que se dispense.
E cada dia - pode ser até metade de uma gota - terei que beber um pouquinho de sol. E ir me enchendo; me enchendo de chamas.




"Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar a luz caída
com paciência."

Pablo Neruda


"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."

Fernando Pessoa
Silêncio! Silêncio!
Sinto que a vida anda me rodeando, quero ouvir seus passos, quero sentir auditivamente sua aproximação. Estou gostando disso, estou gostando de ter a vida perto!

3.12.10

Agora imagina se tu tivesses que passar toda uma vida a escutar uma única música. Todos os momentos - os alegres, os tristes, os indiferentes, os tantos outros - haveriam de ser preenchidos com a mesma trilha, uma única música. Pensa em quanto amor deveria existir em ti pra se maravilhar com os mesmos repetidos acordes, com a mesma repetida melodia, com o mesmo repetido ritmo e a mesma e repetida voz. Pensa em todo exercício que terias que fazer para que tua música não te matasse de tédio e angustia e horror. Para que aquilo a que antes chamava salvação não se transformasse no pior dos teus tormentos.
Mas pensa que diferente (na ausência de melhor palavra) seria converter seu tormento em amor. É o mais autêntico amor saber cultivar uma mesma música pela eternidade.
Se eu for capaz um dia de viver com essa música única, poderei dizer majestosamente que sou sobre-humana e gritarei sem temer: "O MEU MUNDO É INCORRUPTÍVEL!!" Saberei gerar, daquilo que aparenta não ter mais vida, o encanto e o espanto para viver.
Niguém me entende por que eu sou feita do ontem, e vivo na pós-modernidade. Minhas ideias são ideias ultrapassadas, são pensamentos que já foram superados. Vivo com as ideias agora ultrapassadas daqueles que já estiveram à frente do seu tempo. Vivo de ideias antepassadas nesse mundo futurista e não há lugar. Não há lugar para o retrógrado. E o pior de tudo: Não sou tão urgente quanto o mundo e sei: Não o alcançarei.

Alguém vivendo de anteontens num mundo em que se vive de depois-de-amanhãs.

O Vazio




"o que é que vale mais, o cheio ou o vazio?"
Rubem Alves

http://www.rubemalves.com.br/ovazio.htm


Foto editada por Cléo Pyanelly

27.11.10

Pediste toda a minha verdade e eis-me aqui com ela. Eis-me aqui bruta, seca, tosca, crua e cruel.

Um talo de flor espinhento sem a flor.
Melhor não tocar!

26.11.10

Philosophie



Foi porque vi braços e mãos também brancos e com veias verdes e saltadas que lembrei-me de ti, ou melhor, que te senti. Senti a vida se exagerando por meio da imagem daquelas veias, senti a vida com força e impacto. Senti tua presença de novo - e senti a mim.
Descubro que tudo que mais ambiciono são veias verdes a me rasgarem a pele, a me criarem relevos - como as tuas.





photographie - filme Ágora
"Se não questiona o que acredita, você não pode acreditar"

23.11.10


Tremi. Olhei teu nome e foi como se tivesse te encontrado pessoalmente, de súbito. E como será nosso próximo encontro? Será um encontro com tremor? E esse tremor o que gerará? Destruição ou aproximação? Será tremor? Tremeremos junto mais uma vez? Mais algumas vezes? Quantas?
Temor

Às vezes quero matar tudo; às vezes, nada. Às vezes, intensificar tudo; às vezes, nada.

16.11.10


É preciso mudar porque um dia quero ser digna de dizer que fui sua aluna. Porque é preciso ser digno para se fazer uma afirmação dessas.

11.11.10

Eu poderia dizer para não precipitarmos as coisas e deixarmos a saudade chegar mansamente. Dizer também que dar um tempo faz-se necessário para permitir que ela tenha sua vez. E dizer não sufoquemos a saudade precipitadamente.
Já não adiantaria falar isso, sufocamo-na. E, com ela, sufocamo-nos também.

4.11.10

"Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará."
Clarice Lispector

2.11.10

"- Pai, me ensina a ser palhaço!
- Isso não se ensina, seu bosta!"


Eu também sou uma incompetente pra vida.
Só queria ter essência de palhaço - quem sabe isso me ajudasse -; porque o fracasso - a matéria-prima - eu já tenho. O que não há em mim é essa habilidade que os palhaços tem de lidar com o fracasso e com as frustrações. O que não há é esse vazio aberto ao preenchimento, que eles tem. Meu vazio é fechado - talvez, por isso, o pior vazio.
Felicidade em vida? Há que se morrer pra saber! Ou apenas há que se viver e crer na sua existência e frustrar-se constantemente e dizer com uma certeza: Não há! Não haverá. E, mesmo assim, não se conformar com sua intocabilidade e permanecer de braços estendidos; sempre um pouco mais estendidos que antes e, por isso, mais doloridos também.

29.10.10

Ser pequenininha pequenininha, pra saber admirar todas as coisas gigantes e também as miudezas.
Pequenininha para quase não ter peso.
Pequenininha pra caber em qualquer canto.
Pequenininha para não fazer sombra grande, quando as luzes estiverem perto.
E pequenininha para querer crescer também.
E pequenininha para que poucos me vejam, mas que os que me vejam queiram me cuidar.

22.10.10

E, de tanta luz, o dia não coube em si; virou outro.

E vamos a luta

Competições autênticas são aquelas que se fazem sob disfarce. Modulam-se com a máscara da tranquilidade, da simpatia. E ninguém diz. Ninguém diz que por dentro espera-se apenas o bote, o momento do bote, pra matar envenenando.
O momento do bote é uma catarse: Você vê no outro sofrimento e se purifica - num brevíssimo instante. E, num instante ainda mais breve, o efeito da catarse acaba, o veneno é expelido em tuas correntes sanquíneas novamente e você procura outro alvo ou, talvez, o mesmo ressuscitado.
E eis que descubro a origem do sadismo. Envenenamos o outro, para tirar um pouco do nosso veneno, que é tanto que não suportamos.
Somos seres rasteiros!

21.10.10

Vamos ser, apenas?

Deixar correr no sangue as gotas de tudo, de cada sentimento: sangue arco-iris. Deixar de odiar a ira (e deixá-la explodir), de prender o choro e de segurar o riso. Deixar isso tudo - e mais - vir à flor da pele e sem programação.
Minha obrigação é a de não ser.
E de ser, apenas, quando eu quiser!

17.10.10

Senhor Solidão

O mundo tem um senhor, seu nome é Tempo. Senhor Tempo vê tudo passar e vê a si próprio resistindo - é o único que resiste a tudo e a todos. O Tempo é o único que permanece. Tempo, Senhor Solitário, qual a felicidade que tens por se manter implacável?
Desejamos ser como tu, Tempo: implacáveis. Mas nem desconfiamos que tua solidez é também também tua solidão.
Senhor Tempo, estás condenado a ser Senhor, estás condenado, por ser quem és, a ser quem és, apenas.

14.10.10

O amor e o medo

Quem não nos deixou viver foi o medo. O medo de ser por um tempo e depois deixar de ser, o medo de ter que ser, a obrigação. Tivemos medo foi da felicidade. A felicidade é cruel e é temível. Ninguém suportará seu prolongamento vivendo com o sussurro do seu fim. A felicidade é pra ela mesma. A nós, restam os cacos. A felicidade corrói tudo, espatifa tudo.

13.10.10


Cacei o passado dentro de mim pra te ter comigo.

1.10.10

"...o diabo da vida é que entre cem caminhos, temos de escolher apenas um e viver com a nostalgia dos outro noventa e nove."
O Encontro Marcado; Fernando Sabino

16.9.10


Eu quero uma vida implosiva, em que minha fé - e não a alheia fé - me baste. Eu quero uma vida implosiva pra que minhas explosões façam grandes ruínas e ruídos por dentro e nenhum por fora. Uma vida implosiva para que eu possa colher minha maior verdade.

14.9.10

Uma das poucas certezas que tenho é que amo cheiro de cimento molhado. E também de barro molhado. Aqui em casa, o cimento das paredes está encoberto pela massa há muito corrida e pelas várias camadas de tinta. Na casa de minha vó no entanto há paredes todinhas em cimento. Às vezes chego lá, bebo àgua no meu copo de alumínio, encho mais um pouco o copo e tchum! jogo a água sobre uma das paredes e absorvo, só sorvo todo aquele cheiro. Sinto a insuficiência dos meus pulmões, queria inalar tudo de uma só vez.
Aqui em casa tem uma planta que é o malvão. Sempre que a rego, inundo-me com o cheiro do barro mesclado ao cheiro de malvão.
Meus pulmões sempre insuficientes.

9.9.10


Era a pose pra uma foto. No íntimo, era desculpa pra estar junto. "Porque se chamava moço, também se chamava estrada, viagem de ventania..."

Coração

Eu não deixo de me alimentar de ti. Não existe mais inveja em mim; inveja por não te possuir ou por te alimentares de outros que não eu. Acabei gostando de te ter comigo ao invés de te aniquilar. Desejo e realidade se mesclam e já não sei distinguir e vivo bem assim, tomando meus sonhos por reais, transfigurando minha realidade, inserindo-te pra haja revelações; e pra que estas sejam revelações SELVAGENS.

29.8.10

Ahhh, nada como o tempo! O tempo pra nos fazer curar das coisas! O tempo pra nos fazer curar dos outros! Ahhh, nada como o tempo e a distância, nos fazendo curar do incurável.
Se não houvesse tempo nem distâncias, não nos curaríamos.
Portanto, adeus ao tempo e às distâncias:
Quero é me apegar ao que dizem ser passado.
Não ahhh o tempo!

27.8.10

Sua melodia vagueia por mim, penetra em mim e me anima. Nem me sinto mais próxima de ti, do teu semblante, da tua delicadeza angelical. Você se dissipou e eu nem queria isso. Mas se ponho tua música, acordas em mim, e vem me vagueando, me balançando, me tirando pra uma dança. Danço mesmo sem você, ouvindo-te apenas. Você me balança com as melodias que te criaram, as melodias que te criaram em mim.

25.8.10

Hoje eu só quero dizer que estou aqui pra acreditar. Eu preciso afirmar que preciso acreditar em mim. Acreditar, Acreditar. Isso é tudo que eu tenho para me dizer: Acredite!

11.8.10

As pessoas, em essência, são muito mais do que pares de sapatos, mas elas se esquecem disso

25.7.10

Rasgando sangue, soprando sangue. Gotejando, o sangue. Sugando o sangue, o chão. Suando sangue. Riso de sangue, olho cheio de sangue, corpo-sangue.
Melada de seu interior ela segue marchando, manchando, melando o exterior que não é seu. A sangue.
O tempo não se faz presente ao se encontrarem. Há um contexto único todas as vezes que se encontram. O ambiente se revela com a energiam que emanam, o tempo se dissipa: presente, passado, futuro tudo se mistura, formando um só tempo: tempo da colheita do amor. Tudo se mistura formando um só tempo: da colheita do amor. Tudo se mistura formando um só tempo: amor.
Amor é um tempo que agrega indistintamente o passado, o agora, o futuro e o sonho.

15.7.10

Queria dizer que nem triste nem feliz, plena, realizada. Não tenho inveja a oferecer-lhe, a menos que deseje minha indiferença.
Nada de grande também para fazer-lhe pensar em mim, sentir saudades, nada disso. Pode morrer minha lembrança - que sempre soube passageira, ainda que querendo me fazer essencial.
Isso é tudo que tenho para competir com você. Toda minha insignificância competindo com o teu vigor e a tua posterioridade.

11.7.10

Elas, o amor, o terceiro amante

Um amor cândido o delas duas. Amor que dispensaria quaisquer intimidades - apesar da sua profundeza - além de toques sutis e carinhos também sutis. Amor que dispensaria palavras - o amor mais silencioso e mais anunciador: o delas duas. O amor entre as amoras, entre os amores de um terceiro amante. O amor pelo terceiro amante (o primeiro, na verdade) as fizera chegar ali - o mais próximo possível dele. O mais próximo dele é quando estão juntas e não se tocam violentamente, sensualmente. Tocam-se candidamente por amor a ele - o único capaz de tocar cada uma delas de uma outra forma. Por não o terem, tocam-se elas candidamente, consolam-se mutuamente. Por amor a ele, silenciam com um beijo cândido. E toques sutis. E toques sublimes!

Por amor a ele, juntas, Sublimam
como se tivessem
ele.

9.7.10

E as coisas que guardei apenas comigo sempre tiveram maior dimensão, maior sensação, maior verdade.

8.7.10

Fariam um belo casal.
E, se fizessem um ridículo casal? Que importaria?
A beleza está na cumplicidade, isso sim. Nas mãos entrelaçadas, nas provocações amorosas, nos risos que explodem por não aguentarem por estarem juntos.
Ah, eu prefiro os belos casais ridículos aos propriamente belos.

26.6.10

PU-TA!


Não sei das motivações, não. Eu sei que é isso aí. Quando me perguntam o que vou ser da vida só tenho vontade de falar "Mulher"! Da vida eu quero ser mulher, mulher! Não, não ouviu errado não, é isso mesmo. Vadia, prostituta, se preferir. Mulher, é o termo que mais me apraz, da vida.
Mulher da vida...
Já parou pra pensar na poesia que isso tem? Mu.lher.da.vida! (Mulher dá vida! Lhe dá vida! Dá vida! Dádiva! Diva! Vida!)

Meu homem? Seria a vida exclusivamente e, por extensão, todos os outros. Estaria para ser fiel a este meu homem, que por vezes poderia vestir-se de mulher também. À vida seria fiel. Não seria mulher do Júlio, do Marcos, do Paulo ou Pedro, da casa, do trabalho e a estes não deveria fidelidade. Estaria além. Poderia ser de todos esses e seria além. Minha fidelidade me multiplicaria.
Me chamariam de Maria, de Joana, de Ester, que cada hora eu seria uma: a que você/ele/ela quisesse, a que lhes conviesse eu seria.

Seria Puta da vida
Pra não viver uma vida da puta!




Entenda-me, é só um sonho e não pode julgá-lo. Por quê? Porque sei desejaria que não o fosse apenas.

24.6.10

Há uma explosão lá fora: de cores, de fogos, de sons. E eu cá dentro, distante de todas as cores e fogos e sons. Procurando sentir sozinha essa explosão, mas não dá!
Disseram-me certa vez que eu era apaixonante, apaixonante. Só não consideraram a efemeridade que o verbo "apaixonar-se" traz consigo e, logo, os seus derivados, como o adjetivo "apaixonante". Eu sou apaixonante, quer dizer, eu fui; o tempo mudou o verbo. Talvez eu seja novamente apaixonante, pra um outro alguém que, logo, logo descobrirá a efemeridade do meu ser apaixonante e se desapaixonará permanentemente.
Estamos todos entre amor, ódio, indiferença e ilusão.

20.6.10

Eu quero olhos saudáveis e mãos habilidosas. Olhos, pra que eu vislumbre a doçura e vislumbrando, apreenda-a; a habilidade das mãos, para construir a doçura. Ah, a doçura!
É que ando tão amarguinha ultimamente. E não quero essa amargura não. Eu quero mesmo é a docilidade das crianças, os olhos saudáveis de criança, o destemor ao construir - ainda que destruindo - que as crianças tem. Eu quero isso tudo, e tudo isso não é demais não. Tudo isso é o mínimo e tudo isso é também o máximo.
Só estou pedindo pra viver, é um pedido tão ralinho, mas tão necessário.
É um desejo difícil de concretizar, talvez! Mas é o mínimo e o MÁXIMO.
É tudo o que tem que ser e ter pra se viver: olhos saudáveis e mãos habilidosas.
É tudo que eu quero
Tudo que eu peço
É o que rezo:
Olhos saudáveis e mãos habilidosas. Pra ver e construir (com) doçura.

17.6.10

Eu tenho o que dizer, mas não sei como começar. Começo assim expondo essa minha falta de habilidade só pra começar a escrever e assim experiencio se é verdade mesmo que "depois do primeiro passo tudo flui". O primeiro passo já foi dado - comecei -, mas não acredito que depois dele tudo flua não. É claro que você já está em movimento ao dar o primeiro passo, mas e daí? Você poderá parar antes do segundo passo ser dado, na metade do caminho ou pertinho de alcançar seu alvo, caso sua vontade de voltar atrás seja maior ou caso sua vontade de continuar em movimento não seja uma Vontade com "V" maiúsculo. Se ela for com "V" maiúsculo, você continuará.
Eis eu aqui sem saber se é uma "V"ontade o que me traz a escrever. E vou continuando.
Nem lembro mais o que me trouxe aqui pra escrever. Embalado pelo balaço do primeiro passo esqueci a finalidade da minha caminhada e me perdi. Agora, consciente disso, procuro retornar. Acho, ao contrário de antes, que depois do primeiro passo tudo flui. Difícil é ter consciencia de para onde vai todo esse fluxo de fluidez, saber da sua direção.
Era, talvez, sobre uma incapacidade de manifestação ou de comoção o assunto extraviado. Da paixão e das insatisfações que geram o envolvimento com algo. É! Parece-me que era esse mesmo o assunto. Era sobre isso que não tenho em mim: essas paixões e essas grandes insatisfações e revoltas e inquietações geradoras de movimento.
Disseram que pessoas assim, destituídas dessas forças, estão condenadas a ser medíocres. Pessoas como eu, condenação, mediocridade: é isso que passa agora na minha cabeça numa tentativa de compreensão.
Fiquei "inerte" (outra palavra utilizada por eles que têm "V"ontades)quando ouvi isso de mediocridade. Afinal, não posso fugir a minha natureza (poderia chamar isso de natural?). Medo? Senti medo quando ouvi isso? Sei lá, acho que minha me.di.o.cri.da.de não me permitiu sentir isso também não.
Sabe o que eu vou fazer agora? Sabe o que tenho vontade agora?? Rááá´! É de quebrar, é de gritar, é de mostrar toda essa força das paixões!
Mentira, viu? Tudo que disse agora é men.ti.ra. Não tô com nenhuma dessas "V"ontades não, que pra seres medíocres tá tudo bem, tá tudo sempre bem.
Disseram ainda ser fácil essa vida medíocre. Sabe o que eu penso? Que eles não sabem que a mediocridade não se basta, que lado a lado com a mediocridade caminha um resquício de consciência que fere quando a gente pára e pensa.
Parece que eu tô é me justificando e estou mesmo.
Eu só queria poder gritar minha mediocridade. Não numa atitude de quem sente orgulho. Numa atidude de quem grita pra se assumir e, talvez, na tentativa de afugentar essa medio.cri.cri.cri.
Era um misto disso o que eu tinha pra dizer. Só pra me afastar um pouco dessa mediocri.cri. Tudo tão medio.cri!

Dei passos pra sair desse marasmo, mas tudo acaba sempre. Acabaram-se as "V"ontades, quero dizer, as vontades. Sobraram medio cri cri cri.

15.6.10

Sempre tenho a impressão de que tudo que escrevo não é meu, pelo menos não somente meu. Tenho a impressão permanente de ter me apropriado de algo de outrem - seja uma ideia, uma expressão ou a forma de escrever. Quero apenas pedir perdão pelos meus furtos - verdadeiros ou forjados - e dar créditos a todos aqueles que passam por mim, quando os leio, quando os escuto e que me impregnam de coisas que acabo por me apropriar de tanta semelhança e/ou admiração.

12.6.10

Só estou aqui pra dizer que estou existindo! Pra afirmar a mim mesma minha própria existência, pra me convencer de tudo que se passa! Estou aqui é pra sentir minha raiva de perto, cara a cara, e ter a liberdade pra senti-la! Eu quero ter liberdade pra sentir minha raiva, pra fazê-la respingar em quem quer que seja numa atitude bem mesquinha! Ahhh Tudo que eu menos quero hoje é dar a César somente o que é de César! Eu quero dar a César é o que ele não merece! Eu quero é ser egoísta e respingar a toda minha ira apenas pra perceberem que eu existo, nesse mundo de merda, nessa merda de mundo! Eu EXISTOOOO E TENHO RAIVA!

11.5.10

eu tô tentando arrastar minhas pernas com meus braços, puxando uma depois a outra, pra sair desse lamaceiro que me cobre até o meio das coxas
Descobri que o vazio tem peso, e como pesa esse meu vazio!

4.5.10

Hoje atacou a doença do exagero da dor, causada pela saudade.
Queria sair daquela aula para voar através da música e do corpo. Queria meus pés tirados do chão, conduzidos pela alma e pelo som, somente.
Meu cansaço não existe quando danço e me entrego. Não há cansaços em mim se danço.

Se eu pudesse viver minha vida toda fazendo passos, figuras com meus pés e meu corpo, nada poderia eu desejar mais ter da vida.

Por mim, viveria somente de som, suor, silêncio e sintonia.
Sempre num ritmo, num tempo determinado pela música.

30.4.10

Solidão, Tempo, Amor

Um lenço na cabeça dela, estampado. Lembro apenas de duas cores da estampa: o azul e o verde. E, usava óculos novos, frágeis como ela aparenta ser. E ele, meu vô querido e lindo (como disse Dani), saindo do entorpecimento do seu quarto escuro, onde é sempre noite. Com o vestir de sempre: uma calça social gasta pelo tempo e uma blusa de linho também gasta. Ele que já não tem o que fazer da vida ou com a vida, se abriga na escuridão, no sono, na solidão. São dois companheiros da solidão, companheiros um do outro, são a solidão aconchegante do outro.

São velhos. E lindos.
São o som do silêncio, da traquilidade.
São o tempo em formas concretas.
São arte, são arte.
Mais que isso, acho que são mesmo Amor.


E... são parte de mim ...sou deles

29.4.10

"uma parte de mim" não é "vertigem" e nem "linguagem"

28.4.10

Mas há dias em que nada faz sentido
E o sinais que me ligam ao mundo se desligam

Eu sei que uma rede invisível irá me salvar
O impossível me espera do lado de lá
Eu salto pro alto eu vou em frente
De volta pro presente

Trecho de "Túnel do Tempo", de Frejat.

27.4.10

São dez milhares de décadas de repetição. Já não tô suportando ouvir, é melhor mesmo me calar pra não ouvir as coisas de sempre. Pra não descascar a ferida pela bilionésima vez, pra água não rolar, inundando; que já nem tenho força pra nadar contra a correnteza que sempre vem. Dessa vez, deixa tudo quieto e represado aqui dentro que não tô aguentando.

17.4.10

Já não são as mesmas coisas os aniversários em minha família. Pelo menos para mim, que não dou mais presentes, que já não os entrego e nem peço a meu pai dinheiro pra compra do presente da minha mãe, ou vice-versa. E, como é difícil essa realidade. Dura, não?! É duro, onde faltam abraços, carinhos e palavras, faltarem também presentes na data do aniversário. O presente era o meu "eu te amo" do ano, era um pouco de voz duma alma silenciosa dirigida a outra. E agora, sem presente, sem essa voz concreta que se fazia graças ao presente, resta amor? Resta amor ainda, claro, falta demonstração. E, adianta algo o amor sem demonstração? Eles sentem meu afeto no meu abraço (não tão forte pela ausência do costume) ou nas palavras clichês ditas por todos e a todos nos aniversários? Será que isso basta?
E o presente bastaria?

14.4.10

Ai!
A vida! A vida!
Os desencontros do destino
Os dez únicos encontros graças ao destino
Os dez últimos encontros
O último
Encontro
O primeiro
Desencontro
Desencanto
Canto
Saboreio todos os cantos do mundo
Todos os encantos do mundo
Saboreio também os desencantos
E os dez últimos desencontros Encantados

13.4.10

Conto meus desencantos pra ninguém ouvir. E falo e ouço sozinha sempre. E de certo que me importo, pois do contrário não precisaria desabafar comigo mesma. Mas, minha solidão me faz companhia e me compreende sempre, estou me acostumando a ela. Estou me acostumando a não ser vista nem ouvida nessa multidão. Preciso aprender a me bastar. E, não quer dizer que eu seja prepotente. É mecanismo de defesa, apenas isso; estratégia de sobrevivência.




"...Caminho percorrido com a vontade de atravessar o Inferno, oferecer a face ao caos, de padecer o mal até o fim."

Trecho do livro "O lobo da estepe", de Herman Hesse.

12.4.10

Sempre me passou a ideia de que eu era uma criatura pacífica, harmoniosa, vivendo em um estado de paz quase constante com as outras criaturas do mundo; mas não. Era ingenuidade demais me crer assim. Agora eu percebo que realmente não havia conflitos, grandes ou pequenos, não havia muitos conflitos entre mim e outras pessoas; e tomava isso por estado de paz. Contudo, vejo que um estado harmonioso passa além de uma ausência de conflitos. Não há conflitos entre aqueles que não se tocam, muito menos harmonia ou paz. Percebo que essa ausência de embate é ausência gigante que tive/tenho com relação ao outro; é a insensibilidade à presença do outro; é, por vezes, indiferença.

11.4.10

Diz-se choro preso na garganta.

É a tristeza querendo cair e me enublar, como as nuvens ao meu sertão. Quer-se chover aqui. E, não há resto de calor. É vento. Vento frio e um ruído triste e um sol escondido pelas nuvens. E tem águas presas nas nuvens e tem o cinza. Eu tenho só o cinza. Eu quero chover, mas só estou enublada. Sou nuvem cinza, mas seca por dentro.

8.4.10

A dignidade de viver não se arranja nas calçadas fora de casa. Se arranja nas relações mais íntimas, com portas de casa abertas. Mas é tão difícil essa dignidade de portas abertas, no entanto, é a única dignidade aceitável. Não se vender, não se prostituir é tão difícil. E, a cada porta batida eu me prostituo. Vendo minha dignidade por um pedaço de atenção e de relação, mas a relação que tenho é promíscua e míserável.

Não vale a pena fechar portas tentando esconder a obscuriedade de suas relações, não adianta. Toda obscenidade aberta, mostrada, é muito mais digna.

[pra mim: então, Se exponha!]
Há tempos não visito os meus baús, não os reviro. Sem qualquer pretensão grandiosa, aproximo-me de um deles e o abro, deixando exalar dele o cheiro do mofo. Procuro algo que não sei o que é, alguma coisa que possa me ser útil nesse presente. Caminho com meus dedos e mãos entre as ruas, travessas, becos e esquinas do meu baú, e pra ser sincero, nem percebo que meu baú é uma encruzilhada; passo por ele tão desapercebidamente! - é um trajeto que percorro sem ver, só no tatear. Mas meu tato é tão cego quanto meu olho.
Reparo agora, no entanto, na aridez e na poeira, oriundos desse tatear e minhas mãos estão impregnadas de pós (na verdade de prés). Sacudo-as fora do baú e as partículas de prés ficam em suspensão e ascendem e impregnam também o quarto, as partículas de prés se colam nas paredes do meu quarto e o amarelo de estradas percorridas está na palma das minhas mãos.
É como se eu quisesse começos intermináveis, que a minha vida fosse repleta de começos, pois não consigo dar continuidade. Tudo que é contínuo me é avesso. E, apesar da morte, a vida é contínua e, portanto, até à morte a vida me será avessa.
Eu queria a realização de um desejo que creio impossível: que a vida me fosse feita de princípios e só. Na verdade, poderia ser feita de princípios e fins. O que não suporto é o meio, o trajeto a percorrer, a continuidade; isso não suporto. E... não é que eu não queira... simplesmente não suporto!

29.3.10

Todo mundo é lobo por dentro (Petulante)

Você me disse que eu sou petulante, né?
acho que sou sim, viu?
como a água que desce a cachoeira
e não pergunta se pode passar
você me disse que meu olho é duro como faca
acho que é sim, viu?
como é duro o tronco da mangueira
onde você precisa se encostar
você me disse que eu destruo sempre
a sua mais romântica ilusão
e destruo sempre com minha palavra
o que me incomodou
acho que é sim
como fere e faz barulho o bicho que se machucou,viu?
como fere e faz barulho o bicho que se machucou,viu?


Oswaldo Montenegro

19.3.10



Certa vez, tu havias se perguntado entre tuas letras se era amor verdadeiro aquilo que por mim sentias. Parece que achastes a resposta e, pelo fato de não compartilhá-la comigo, sinto qual seja ela.
Ai, não fora amor verdadeiro o que tu por mim sentias, e se fora verdadeiro, não fora duradouro.
E, ainda hoje, passo os dias a me questionar como se teria sido a vivência mais plena desse amor; como nos teríamos gastado juntos.
A sequência de sua vida acompanho vendo teus retratos, e, ai!, quanta ansiedade por ver um retrato meu entre tuas páginas, pra sentir que ainda há resquícios daquilo que um dia fora dúvida, daquilo que um dia, acredito, fora amor; pra sentir que a certeza de uma morte não é iminente.

27.1.10

Não me peça mentiras que hoje não soo criativa

6.1.10

Talvez meu gosto de felicidade seja diferente do gosto dos demais. Meu gosto de felicidade tem um sabor nostálgico do que já passou ou do que não virá. É um gosto certamente triste e com sabor de lágrimas. Meu sabor de felicidade vem da angústia trazida por aquilo que não sou, por aquilo que jamais fui, por aquilo que não serei e também por aquilo que serei, posto que ser algo me limita.