9.12.12

Silêncios e palavreamentos

Ando me recriando por meio das palavras, me despindo por meio das palavras, construindo ponte entre abismos silenciais. Meu silêncio é protetor, escondedor, ocultador. Desrevela tudo que eu não quero mostrar - ao menos tenta desrevelar. Minha agonia de me esconder sem palavras, busca outras formas de expressão. Por isso canto, danço, toco, atuo. Por isso transformo minhas angústias em arte. Mas sei que ainda não é arte isso que faço. Arte tem que ser inteireza, completude, entrega, gozo sincero, coisa sem hesitação. Por isso, estou a um passo da glória ou da queda. E que eu me entregue a esse passo sem recuos e sem medos - seja da glória seja da queda.

6.12.12

Escrevo versos como quem mata

Laminar - Passar a lâmina, cortando

Lâmina é luz.
Lâmina é corte.
Logo, Logos,
Luz é corte?
Corte é luz?

Numa palavra ou noutra
Lâmina é Abertura
E Morte

23.11.12

Eu quero um amor imenso
Mas sei das pequenuras em mim
Que eu não tome minhas pequenezas
Como gigantes
Que a elas se sobreponha
Todo o meu querer amar imenso

20.11.12

E agora, o resto d'alma se esvai, atravessando o peito.

19.11.12

Sinto uma angústia de quem tem a alma saindo pelos pés

5.11.12

Se eu soubesse cantar
Te cantaria.
Cada música seria
oferta de mim a ti,
se eu soubesse cantar.
Quando eu aprender a cantar,
eu te canto, meu amor,
em todos os tons.

4.11.12

Nessa busca insana por mim mesma, tenho perdido tantas e tantas coisas!

24.10.12

Ditaduras

Há aquelas cuja concretude, a materialidade nos fazem sentir mais fortemente, fazem-nos tomar consciência mais rapidamente e nos convida a resistir, como é o caso da ilha, com aqueles arames farpados nos ferindo a carne só de se imaginar ultrapassar. Há outras ditaduras, porém, menos visíveis, menos perceptíveis, mais interiores, e, nem por isso, menos danosas, menos venenosas: ditaduras do pensamento maquiadas pelo discurso do real, do imutável; que nos atiram pedras ou armas sobre sonhos, que vão nos destituindo das armas que sabemos manusear até não conseguirmos mais pensar em outra forma de AconteSer. 

25.9.12

Saído de uma criança

"Ela sorriu ni mim"

Inundações

De tempos em tempos
Venha umidificar as terras secas
De tempos em tempos
Venha transbordar tua vida fluida nestas terras
De tempos em tempos, ó Rio,
Inunde-nos
Afunde-nos
Deixe-nos submersos
Enxarque-nos
De tempos em tempos
Faça-nos peixes
Que esta tal humanidade anda cruel 

3.9.12

Há uma ilha aqui.
Uma ilha de liberdade, de diversidade, de lazer - em contraposição aos dias miseráveis ou às misérias cotidianas.
Há uma ilha aqui, denominada Ilha do Fogo. E é o povo que mantém sua chama acesa.
Há uma ilha aqui
que acaba de ser roubada
que acaba de ser patriotizada
que acaba de ser 'exercizada'
que acaba.

Já se vão eles, com armas, a defender a ilha
da liberdade
da diversidade
do lazer
do povo.
Já se vão eles, com amas, matar a ilha. 


"Miserável país aquele que precisa de heróis." Bertolt Brecht

23.7.12

Não olheis o meu passado, mas a fé que afirma vossa presença

Minha Senhora, não temais o meu passado nem te enciumeis se ele tem beleza, outros carinhos, outros cuidados. Minha Senhora, não vos entristeçais; que rezo ao meu passado somente por um carinho de vida e de memória. É para vós que, diariamente, meu coração acende as velas.

9.7.12

Se demore

Há tempos ando buscando alguém que se demore em mim. Buscando alguém a quem eu possa me demorar também, querendo a velocidade das tartarugas, não a dos mísseis¹. E que você, menina, me devore e se demore² e que eu, menina, te devore e me demore.

¹ - um pouco do Manuel de Barros (Prezo a velocidade das tartarugas mais do que a dos mísseis)
² - um roubo dos Tribalistas (deita no meu peito e me devora... deita no meu peito e se demora)

6.7.12

Foi Beatriz quem perguntou

"E a água não morre quando seca e não volta a viver quando chove?" E eu não pude discordar da sua sabedoria e poesia.

"Sim, me leva para sempre, Beatriz/Me ensina a não andar com os pés no chão/Para sempre é sempre por um triz/Ah, diz quantos desastres tem na minha mão"

Quando um Eduardo bate à porta...

Quando um Eduardo bate à porta... Não se chama Eduardo. Eduardos chegam atrevidamente, desordeiramente, cheios de rabujices e espaços intocáveis. Quando um Eduardo bate à porta é sempre sem crase, é direto: bate a porta! É muito difícil lidar com Eduardos, tão difícil quanto é fácil amá-los quando, lentamente, começam a abrir as portas.
É que nesses dias concretos, e também noites, o céu esbarra numa parede, deixando de ser céu porque sua imensidão diminuída diminuiu seu ser.

9.6.12

Aparições

Foi teu adeus mais sincero tua rapidez
Foi teu adeus mais sincero tua rispidez
Agora entendi, já era hora

4.6.12

Sarapopeeeeia...

Todos os dias estão sendo dias de poesia. E que a poesia vá crescendo, aumentando, trazendo novos "espantamentos", um olhar mais limpo, lavado, levado. 
Além de dia de poesia, hoje foi dia de colocar pela primeira vez o nariz e nem sabemos se ele ficará, mas foi uma experiência forte colocar o nariz.
O nariz vermelho criou em mim a necessidade de ter olhos maiores. Foi com o nariz que senti meus olhos expandirem. O nariz vermelho também me deu senso de responsabilidade: afinal, vestir o nariz tem peso, tem o peso que é cobrado para ser leve.
Estive eu vestida com o nariz vermelho, tentando fazer jus a isso.

"...Se eu tivesse a língua doce
Te cobria de poesia..."
(Ceumar e Gero Camilo)

23.5.12

E agora, que andarei meus dias sem correr o risco de te ver? Há uma greve compulsória em mim, impedindo-me de correr teu risco.

18.5.12

Dias de sim

Dias de encontro
Na poesia
Nas pessoas-crianças
No remechimento por dentro
Na revilravolta por fora
Reencontro com as palavrinhas-palavrões:
Força, Coragem, Esperança, "Rebento"

16.5.12

Acerca da lona universal

Peço pra passar dias aí, aprendendo a ser coletiva; aprendendo a lutar; aprendendo a aprender. Mas não peço pra ficar muitos dias aí, peço pra ficar a vida inteira aí-aqui, tentando ser universal, com a pretensão de chamar os daqui pra ampliação da lona, do circo, do universo crítico.

Obrigada pelas lições!


*As leituras que faço já são meus dias aí. Ler ou reler é meu rito de iniciação, pra adentrar ao coletivo.

10.5.12

Fracassos

De quantos fracassos se faz um palhaço?


Te dispo. Te dispo da indiferença que não te permite viver nem sentir. Te dispo desse teu riso frouxo de desdém, teu riso que te protege, um riso fechado e fechador. Te dispo de tudo isso: de todo esse mundo de realidade.
Me afirmo. Afirmo que é este mundo que quero quebrar, e, se tiver que ser pelo fracasso, que o seja. Mas que eu me afirme mais a cada dia, como o palhaço faz em seu fracasso, lutando por uma idealidade, gerando risos abertos e abridores.
Me dispo.

6.5.12

Fui te despindo; Dulce Maria Loynas 

Fui te despindo de ti mesmo 
dos "tus" sobrepostos que a vida 
te cingiu 

Te arranquei a casca - inteira e dura - 
que parecia fruta, que tinha 
a forma da fruta 

E diante do vago assombro dos teus olhos 
surgiste tu com olhos ainda velados 
de sombras e assombros 

Surgiste de ti mesmo; da mesma 
sombra fecunda - intacto desgarrado 
em alma viva 

Poema desvelado em: http://ouniversalcircocritico.blogspot.com.br/

1.5.12

Fico aqui, vagabunda, vendo teu nome. Vendo, revendo, relendo teu nome. Oculta que estou, não me vês. Mas te vejo com esse vermelho à frente do teu nome, sua ocupação. Quem dera estivesses ocupado de mim.

19.4.12

Na Terra-sanidade, o louco abre o livro e aproxima-o do ouvido; pára assim durante um tempo: o louco escuta o livro, como um são jamais ousou fazer.

14.4.12

Rie chinito

Rie chinito se rie
Y yo lloro porque
El chino rie sin mi

Rie en la noche y achina
Los ojos morochos
Mas lindos que vi

Sopla las cañas sube
La montaña mañana
Quizas bajara

Se hace de dia el sol
Lo encandila los vientos
Descanzan y el chino
Se amanza e se...

Mira la luna mi niña
Y se acuna que es larga
La noche y es claro
El camino mi despedacito de rio
Hasta donde bajaras?

http://www.youtube.com/watch?v=_aIuna5a8Dc&feature=related

10.4.12

Eu ainda te conjugos

Eu ainda tenhos vontade de te cheirar quando te abraços. Ainda a vontade de conhecer tua mãe; a vontade de te ouvir com meus maus olhos um pouco mais. Tenho, à vontade, vontade de passear a mão nos teus cabelos, de percorrer os traços do teu rosto com meus maus dedos, decalcando você pra mim. De encostadas estarem nossas caras sem preços nem pressas. De ainda dormirmos ainda acordarmos ainda respirarmos ainda viajarmos ainda ajudarmo-nos ainda Nós - cegos - cegados.

9.4.12

Tempo

Não é tempo de estar aqui, de escrever. Cometo imprudências comigo ao fazê-lo, perco o zelo que o tempo ensina; o zelo que, agora, se concretizaria no meu não escrever. Zelar seria aproveitar a música deprimente que toca e repete: a batida, a voz, as poucas palavras entendidas, o ecoar.
É tempo de ler Ana Cristina Colla mais uma vez nos seus relatos. Ouvi-la, apenas isso: deixar que ecoe. É tempo de não falar. É tempo de não publicar - e publico. E, publicando, da minha janela não vejo, eu cego.

25.3.12

Conta

Minha vó, me conta das suas memórias distantes, me fala um pouco de você pra eu saber quem eu sou e de onde vim. Pra eu saber do sangue e da força que tenho em mim, heranças herdadas de você.
Minha vó, desculpa eu não ter vindo antes lhe escutar, mas as coisas que tem valor a gente descobre é aos poucos, e é somente agora que venho.
Minha vó, obrigada por ser generosa comigo e não se fechar só porque estive tanto tempo fechada pra você(s).
Ah, vó, como eu queria um gravador pra guardar comigo suas palavras ditas e, mais que isso, pra guardar comigo suas memórias, como se pudesse herdá-las, como se as tornasse minhas.
Que vontade de reconstituir tudo, de fazer uma árvore genealógica das nossas histórias, parecida com aquela árvore grande que tinha nossos nomes e ficava pregada na parede de uma casa como um mapa.
De onde tudo vem? Do passado, da raiz.
Queria achar essas raízes que estão debaixo da terra - lugar onde tudo começa e tudo se finda.
Minha vó, como pode tanta fortaleza? Como pode depois de uma vida inteira juntos, suportar a perda? Como pode ser tronco forte num corpo tão fino, pequeno, numa idade tão gasta? Como pode, vó, tanta sabedoria pra saber viver a vida? Como pode ter tanta compreensão pra sentir saudade e, no entanto, não se deixar escravizar por ela?
Ah, vó, faz de conta que também aprendi a sabedoria, que aprendi a fazer queijos e requeijões; faz de conta que atravessei uma estradinha já chegando a noite e ouvi um mugido e temi muito ser o marruá que o vô tinha amansado; faz de conta que na minha casinha em beira de estrada perguntei a dois homens que pararam por lá (e já começavam a puxar conversa com o vô) se eles eram "de paz"; faz e conta e deixa eu refazer e recontar essas memórias e muitas mais.
Ah, vó, lembrei do batente na casa do Hélio que já havia esquecido, dos bancos que ficavam lá em cima e onde se ajuntavam as gentes depois da procissão; lembrei do sarapatéu, das petas guardadas em grandes latas de margarinas, do fogão à lenha.
Ah, Vó, me lembrei de mim!

1.3.12

Pra lembrar de nós

Tamina guardava suas memórias em seus diários, não era tanto por vontade própria, era pra atender vontade alheia, a do homem que(a)amava. Mas tivera de sair de seu país sem seus diários, sem suas memórias escritas. E sentia, agora, como eram tão seus aqueles escritos e tão suas aquelas memórias. E sua memória - sem as páginas, as letras e as leituras que lhe falavam como foi o passado - tornou-se escrava do esquecimento.
E eu que nada escrevi? Que não as tenho comigo? Que nunca poderei perder as memórias por não tê-las escrito? Como lembrá-las? Resta sair pelo mundo, viver o mundo e reencontrar as memórias no contato com o novo, que é velho, no contato com o velho, que é novo. Reencontrar o perdido nas diversas partes do mundo, assim aprendi com Tamina.

Com o livro do riso e do esquecimento, aprendi que preciso lembrar.

29.2.12



"Pássaros, Gaiolas e as Dimensões Imaginárias dos Afetos"; por Cixto Filho

23.1.12

O jardineiro fiel

Há coisas muito maiores que nossos pequenos propósitos individuais. Hà coisas mais urgentes e mais doídas e mais injustas do que aquilo que sofremos. Acredito estar achando meu caminho e pra chegar a ele preciso esquecer muito mais de mim, não como uma negação de mim mesma, mas como afirmação da vida - a minha própria, mas não apenas.

Eis o caminho a ser percorrido... deixar que os centros sejam outros que não o ego. Abençoe-me neste caminho, quem puder abençoar.

Coragem para ser uma "lutadora do povo"!
Coragem!
Dignidade!
Fé!
Persistência!
Afirmação!
Re-afirmação!
Ação!

"Ressussita-me
Lutando
contra as misérias
do cotidiano
Ressussita-me por isso"