28.4.11

Mito

"...se alguém consegue dominar a enorme fadiga causada pela dança prolongada, poderá movimentar-se automaticamente, sem esforço algum, prova de que o corpo perdeu peso e, em consequência, aumentou de leveza. Os que possuem energia bastante para isso, acabam por elevar-se até o céu..."

Sobre o mito da "terra sem mal" dos Apapocuva. Para se alcançar essa terra necessário seria jejuar e dançar, dançar, dançar.

A Religião dos Tupinambás; de Alfred Métraux

Quase um hino a outro você

A ti eu posso confessar, só a ti. Na verdade, quero acreditar que só a ti, devido a distância, devido a sua sabedoria, devido à confiança que tenho. Confiança não, vai muito além disso. Ouvindo minhas palavras, talvez você me suponha tola demais por confiar tanto assim em alguém a ponto de irrefletir, a ponto de poder seguir à risca qualquer coisa que me dissesse, a ponto de acreditar piamente - ainda que esse alguém fosse você. Desculpas, perdoe-me a tolice, mas é que, vez em quando, é preciso confiarmos nós mesmos a alguém que não seja nós, a alguém que seja outro. No caso, a alguém que é você.
É, talvez, porque eu te quero ser que me dirijo a ti. É também, porque tu és o único que pode ser juiz de mim, por mais impiedoso, e é talvez por saber que, apesar de qualquer carinho que me tenhas, serás impiedoso, porém justo.

Então, responda-me, porque é melhor viver do que não viver? Eis minha questão, embora esse viver tenha, para mim, sentido avesso.

A questão mais direta seria: as pessoas percorrem o caminho que querem, o de traçar sua vida profissional, de correr atrás de títulos e títulos e títulos (o viver). Talvez eu me ache burra demais pra percorrer tal caminho, talvez eu me perca demais nesse caminho. Meu sonho seria tão outro, meu sonho seria, talvez, tão mesquinho: eu queria o saber sem ter que corresponder, eu queria a liberdade de quem não sabe, eu queria uma vida leve, uma vida de cuidados e sem tédio. Queria uma casinha simples, umas coisinhas bem simples e muita imaginação e tempo pras minhas imagens e ações. Um tempo que ninguém mais tem, isso eu queria! Talvez, não fosse nada mesquinho esse meu sonho.

E, então, o que vale mais?

Fico por aqui com minha dúvida mesquinha e te mostro minha grande miudeza, pra você me confortar ou, ao contrário, me pôr em frente ao espelho pra que eu mesma, eu mesma, faça alguma coisa por mim. Nem que seja rezar - isso eu sei que não aprendi contigo, contigo aprendi a apostar! Mesmo assim eu rezo. Eu rezo a você, eu rezo a você como se fosse o meu deus e me pudesse ouvir mesmo de longe e me pudesse consolar. Mas, sei que não queres ser deus de ninguém, porque tu estás para trazer inquietações.
Agora percebo que estranho pedir certeza a alguém que está para trazer incertezas. Mas, talvez, apenas você seja capaz de me quebrar para que eu me reconstrua.

Uma saudade.
(05/04/2011)

Obs: Talvez minha reza já seja uma aposta, antes eu nem rezava a ninguém!
(28/04/2011)

22.4.11

CISNE NEGRO

Cisne Negro - Porque ele me dói tanto? E até quando vou seguindo com as feridas abertas nos pés? Quantos passos ainda até acertar o tempo e o ritmo? Quantos descompassos?
As sapatilhas já não me ferem mais, elas não me dóem. A dor vem da ausência e das distâncias entre elas e os meus pés saudosos. Ando com pés descalços e passos fora do compasso.
Ainda há certa insistência em mim em guardar as coisas, em tê-las só pra mim. Talvez, tenha aprendido isso por meio da minha resignação quase que inata (sei que não é inata!). É que no percorrer dos meus anos fui aprendendo a me guardar demais e a guardar tudo em mim sem compartilhar. Fui desaprendendo a compartilhar coisas e as coisas não compartilhadas eram, além de secretas, minha própria forma de existir, à qual eu recorria quando sentia-me perdida. Há uns tempos venho tentando fazer o contrário: guardar as coisas compartilhando-as. Acontece, no entanto, que ainda estou sem jeito para fazê-lo: às vezes sou urgente demais ao expressar e acabo por jorrar de vez palavras e sensções sem saber guardá-las em mim, acabo por fazer uma doação sem sentir que fiz um bem, apenas transpondo o que era meu a outrem; outras vezes, são urgentes demais, e, por serem urgentes, acabo me deixando ser superficial e não dando conta dos detalhes, das minúncias. As importâncias acabam despercebidas e, depois que narradas, perdidas em um espaço fora de mim.

8.4.11

Hino a você

Aquilo que passou, ficou. Ficou por não haver razão alguma para que desapareça, nem desespero. Dançamos enquanto havia música, mas o baile acaba, a música pára e não foi diferente. Mas as lembranças do baile, da dança, da música, permanecerão, não irão embora, como nós fomos.

E, a você, um hino:

"Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Nao há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão"


Das palavras de Vinícius eu faço as tuas, por você se dar à vida e também, por ensinar os outros a se darem a ela.
Só agora eu consigo confessar aquilo que tu afirmavas brincando e eu negava: Que eu te invejava. Sim, invejava! Invejava por dois motivos: primeiro porque tu vivias; segundo porque, em sua vida, eu não te bastava, e desejava te bastar.

Esse hino é um louvor a ti, mas sem nostalgia, porque, apesar das boas lembranças, eu já não desejo o regresso; já não há o desejo de te bastar. Nós já nos bastamos!