22.4.11

Ainda há certa insistência em mim em guardar as coisas, em tê-las só pra mim. Talvez, tenha aprendido isso por meio da minha resignação quase que inata (sei que não é inata!). É que no percorrer dos meus anos fui aprendendo a me guardar demais e a guardar tudo em mim sem compartilhar. Fui desaprendendo a compartilhar coisas e as coisas não compartilhadas eram, além de secretas, minha própria forma de existir, à qual eu recorria quando sentia-me perdida. Há uns tempos venho tentando fazer o contrário: guardar as coisas compartilhando-as. Acontece, no entanto, que ainda estou sem jeito para fazê-lo: às vezes sou urgente demais ao expressar e acabo por jorrar de vez palavras e sensções sem saber guardá-las em mim, acabo por fazer uma doação sem sentir que fiz um bem, apenas transpondo o que era meu a outrem; outras vezes, são urgentes demais, e, por serem urgentes, acabo me deixando ser superficial e não dando conta dos detalhes, das minúncias. As importâncias acabam despercebidas e, depois que narradas, perdidas em um espaço fora de mim.

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