16.10.15

Faço o caminho inverso
Da correnteza das águas
Não é o mar o que eu quero
É a fundura do poço
De onde primeiro escorri

Volto à beira da cacimba
E, qual Narciso,
Enamoro-me de mim

Molho-me a cabeça,
E deixo-me lançar
Na pequena profundeza
Das águas de onde eu vim

29.8.15

Validade da palavra

A palavra é perecível
Serve ao com'dizer-nos
No entanto,
Depois que nos fala
Cala
Posso cuidar-te a distância,
Por metáforas concretas.
Rogo-te à planta e
Rego-te a lama.
Ainda estou aprendendo
Como manter-te cuidada à distância:
Metade já está seca,
A verde outra, ainda dança
Raízes na mesma lama. 

29.7.15

Hei de criar nas palavras
A realização do meu irrealizado Ser
Proclamar a ardência de não me conter
Ante a tua presença
Meta-física; meta-eufórica

Hei de fazê-las anunciarem meus suspiros
Nos dias em que o corpo revive lembranças
Do aconteSido
E lançarem-se presentes no infinitivo do verbo
Para AconteSer

Te almejo dentro e com demoras
Onde moras agora,
Se habitas o dentro de mim?

24.7.15

Tu conduzistes meus olhos ao alto
Abristes a minha visão
Agora eu piso o chão
Mas me direciono ao voo dos pássaros
E aos azuis e brancos,
Tão mutáveis quanto infinitos

Tu conduzistes meus olhos ao alto
E me reconduzistes para dentro de mim
Espelho-me nesta imensidão
Transitória e permanente.
Não, eu não estou assim para tantas discussões
Não, eu prezo pelos sins!
Se o dizes que é, então é
Quem sou eu para te negar a crença?
É tua visão e tua escuta e teu tato que te falam
Valem mais que eu. 

Não, eu não estou assim para tantas discussões
Eu escuto e considero
Mas minha ação é no silêncio
Tiro os véus da obrigação da opinião
Ajo em oração:

É só eu e deus
Só eu e deus
Só deus e eu
Assim minusculados.

8.6.15

Anseio estar em tua presença
Física
Físico-química-equacionária
Histórico-literária

Anseio trocarmo-nos os olhares
To-car-mo-nos os olhares
Construidores de pontes
Entre o meu "yo" e o teu "tú"

Anseio as trocas das línguas
Em nossas vãs traduções
A fim de reforçarmos a crença
De que não existem
As tantas separações
Tuas palavras me penetram 
Por baixo, 
Pelas vias de fato

Tuas palavras me dilatam 
O espaço 
E eu o contraio, para que elas me deem mais prazer

Letra a letra tuas palavras adentram em mim 
Ao ar elas me elevam 
Estou montada sobre elas

e CAValgO e CaVALgO


16.5.15

Oh Grande alimentador do Ego
Que cabe na IMENSA pica
Que se arrasta ao chão
Será a tua pica uma terceira perna
Que te equilibra à paralisação?

Cortando-se um pouco talvez consigas
Entrar em movimento
E sair
Da infertilização

14.5.15

Talvez seja enforcamento
E terá aparência de suicídio
Mas não será!

Criações de morte

Diabólico estrategista
A calcular-me os passos, os atos e os risos
A perscrutar minha vida
Para despossuir-me de mim

Inevitável, talvez, será nosso encontro
Asqueroso
Inevitável porque todo aquele que ama
Está predestinado a atravessar a lama da
Vil indiferença
Que subtrai a vida - e é nela que te lambuzas!

Quisera ser loucura-divagação
O que escrevo
Mas aparece-me pavor-intuitivo


Não venhas tu do reino dos mortos
Roubar minha Vida
Não venhas tu, vestido de outrem,
Enganar-me com este olhar arguto

Ainda não será agora que tu me vencerás
Espera outro dia eu cair em tua armadilha
Funesta!
Oh, grande mestre, guia
Só nas tuas filosofias
Acordei a vida em mim!

(Ao Flavio)

25.4.15

Emudescência Exclamosa

Ah!
Uhh!
= OO

E o maior espanto é aquele
Que nos trovoa internamente

15.4.15

talvez que seja assim:
que todo músico saiba
a dança que há em mim.


Corre um fio de vida em mim
E em ti?
Corre um fio de vida em ti?

Escorre fio de sangue por entre as pernas
E de ti, por onde escorre?

Muitas vezes eu mato o fio de sangue limpando-o
E eu oculto
O fio de vida  que há em mim

Outro dia ele pinga pinga pinga
Nervosamente até
Derramar-me todo suas tintas
E tons de
Vermelho-o-dor

25.2.15

Tantos nomes posso te dar
E nunca antes tive
A experiência
Da liberdade tanta
Pra nomear

4.2.15

Garfadas de Grafias

Porque a palavra poesia
É de comer
É de pôr à boca
Aprumar o paladar
Mastigar mastigar
Engolir.

E, às vezes,
Num indigesto digerir,
Ruminar
Mastigar Mastigar
Re-Engolir.

E, do que for eliminar
Transmutar, transmutar
Estrumir
E plantar, no estrume,
E florir.

Re-comer
Mastigar mastigar
Engolir. 

19.1.15

É como se assim... eu não coubesse só em mim.

16.1.15

Ainda que doa,
Sei me render aos desígnios da Vida
Entretanto, sou demasiadamente arrogante
Para me render aos desígnios de uma sociedade
Sem saúde

10.1.15

Estou rumando para outros rumos
Que não têm futuro
Desarrumando as malas
Para a viagem imperiosa do presente

"O eterno é a profundidade do momentâneo" (Osho)

4.1.15

Depois de despedir-se não olhou pra trás
Seguiu olhando para frente
Como se o atrás já tivesse se diss'olvido
Ela, no entanto, que ficava e não partia,
Olhava na direção dele, com esperança de que o presente dele ainda estivesse carregado do passado-nela.
Apenas ela permanecia no instante acabado.
Ou demonstrava permanecer.
Ele indo-se sempre um passo após outro, fitando o em frente.

Ela nunca soube reconhecer o quanto doía
Até conhecer alguém que lhe retribuía olhares,
depois da despedida,
Fascinou-se sem o saber que
Estava ainda presente'fincada no outro
Soube-se lembrada no instante após o fim dos instantes.