31.5.11

Sobre lobos e mordidas


Os dentes na tua carne foram para refrear tua alegria e teus movimentos. Eu quem enviei por meio de pensamentos o lobo atroz. Era preciso ver tua alegria refreada, tua dor aflorada, para que eu tivesse alegria. Como já não tinhas por perto a minha carne, senti fome da tua fome de mim, mandei o lobo te morder mais forte do que eu te mordia para que a marca na carne relembrasse as marcas de quando eu era teu lobo-amante e não te feria.

"Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada"
Lispector

17.5.11

Tecedor do invisível

Trêmulas mãos habilidosas tecendo fios que ninguém vê. De uma mão à outra passa o fio invisível; com ambas as mãos percorre as bordas do tecido inexistente, como quem estica pra manter a retidão. Ninguém além dele percebe o tecido, tampouco as ondulações e os fiapos. Ele é o único capaz de fiar o ar que não venta ousando trançá-lo e tecê-lo.

Dorme Bem Aquecido

7.5.11

A flor e a pele

Evoquei memórias ainda pulsantes, memórias presentes. Evoquei e a pele sentiu e me ramifiquei em sensações. Fui semente, rompi terra, senti raiz e também vento, vi pássaros e admirei, percebi outras pétalas e invejei.
Tive alegrias e, também, medos de flor.