25.12.14

Quatro

Um rio só. Corre.
Um rio só corre
Um rio socorre um só.

Nem tudo acalma
Nem tudo acalma
Nem tua (c)alma

Até no
Acabado aflu'ente
Há fluir

Crepuscular:
Colorindo O
Descolor'ir

16.12.14

Grafia para uma Foto

A tua imagem me pescou os olhos
Saíram de dentro das águas de mar
Para olhar o ar

A tua imagem pescou meus olhos
Sem ferir o olhar com a isca

Não sangrou
Não cegou
Tão somente encheu di ar o O lhar

13.11.14

Há quanto tempo! e tu não vens
Tantas esperas que daria por inúteis
Não fosse tu aquele que está a caminho

Mas confesso culpa:
Por pensar demais a tua chegada
Demora-se ela além dos dias

Talvez que tu quisesses me chegar em dia
De fazer surpresa
E como te penso muito, por brincadeira de pirraça,
Inda não vens

Ah, menino matreiro!
Tu te desvias dos caminhos
Dando mais curvas às estradas
E, a mim, algumas ânsias desesperadas

Talvez que tu só queira é isto:
Desassossegar o meu sossego
Fazendo da lonjura querença de te ter por perto
Inda que em letras

Ah, menino, se te encontras fora da estrada
Distante do carteiro ao portão de casa
Se apressa e vem, se houver meios
Caso não haja, me manda e-mails (hahaha)

12.11.14

A reciprocidade não é
Condição avaliativa
De uma situação

Quanto mais sins
Maiores nãos

Se for medir a tua ação,
Faz da negação do outro
A tua libertação
E eu já desespero o chegar

("e eu ainda te espero chegar")
O que não suporto
Da melancolia
É essa nostalgia
Pra voltar nos dias

É preciso que este tempo
Seja este tempo
Seja este tempo
Seja este tempo
- Presente!

A vontade do regresso
Em nada muda
Se é tão infunda

Há tantas forças que nos orientam e
no momento
elas não nos levam a convergir

Eterno Elo

Que difícil que é
Alcançar o fora do tempo
E do espaço
Sentir os nossos deslimites
Na ampliação da imensidão
E, logo logo,
Ter que voltar
Depois de tanto ter ultrapassado, ultrafuturo, ultrapresente.

4.11.14

Faço meu corpo capela
Pra você me adentrar cheio de fés
E vela

3.11.14

Um medo sem nome me consome
Paralisa-me as pernas
Sacode minha alma
Me põe inquieta

O pior de tudo é que é medo sem nome
Indizível,  de insabível motivo.
O medo sem nome morde-me as pernas
Fere-me nas carnes

Ele é ditador
Apela ao não movimento
Ao não entendimento
É estadista da força

Ah medo,
Será isso intuição,
Ilusão
Ou excesso de o-Culpação?

Trago-te às letras
Para expulsar-te de mim!


28.10.14

Olhos sãos
Vão além da ilusão promovida pela vontade de enxergar.
Quem quer enxergar nada vê
Pois tudo é carregado de esforço
E o esforço corrompe a visão,
Faz contornos de ilusão.
Fecho meus olhos,
Olhos são.

27.10.14

Do nosso próximo encontro

"eu ainda te espero chegar"

Percorrerei as minhas mãos sobre tuas letras
Sentirei o relevo dos teus escritos
E, antes de percorrer meus olhos sobre a tua alma,
Uma parte de mim já estará saciada
Farta de pão caseiro e água.


20.10.14

Minhas mãos são guardadoras de muitas memórias, de tantas histórias, elas são. Minhas mãos tem mais coração e memória do que meu peito. E é por elas que sei das saudades que tenho. Neste momento sentem saudades de ti. Minhas mãos desejam redescrever você em mim, ouvir novamente teus relevos, sorver tuas texturas, te reimprimir em mim.
Eu queria ser casa em meio ao campo
Pra te amanhecer com a luz de um sol ameno e claro
Quando tu quisesses fugir das claridades noturnas das cidades

Eu queria ser casa no campo
Pra te abrir as tranquilidades
Quando teus desassossegos chegassem

Eu queria ser casa limpa
Pra te cobrir de aconchego
Quando procurasses descansos pro corpo e pra alma

Eu queria ser casa na noite serena
Pra te oferecer o céu noturno e as chamas de fogueira
Quando te quisesses ampliar

Eu queria tão somente
Viver bonita e alegre
Pra tu quereres sempre voltar a me habitar

Queria que chegasses logo
Pra que eu te abrisse e passeasse minhas mãos por teus escritos,
Pra que eu sentisse tuas impressões
Tuas aproximações

Mas haverá o tempo de tu me chegar
E, ainda que se extravie pelo caminho,
Agradecerei e amarei meu destino
Pela eminência que sempre existirá
De um dia tu me chegar

16.10.14

Guardo os teus olhos
Dentro dos meus

Não importam os anos
Reencontrarei o teu olhar

Minha alma se inundará
Transbordando as águas
Que nos lavará todas as distâncias

2.10.14

Teu sagrado sexo (à M.)

Ó, flor, hoje fiz amor contigo
Na verdade prefiro chamar a isso sexo sagrado
Demorava-se o nosso encontro de corpos
Inicialmente era o meu corpo nu
Sobre o teu corpo nu
Descascados e descansados, como que a entrar no aconchego do primeiro sono
Era nessa despretensão de amor que, intimamente, nossos poros iam dando vazão aos nossos aquecimentos de dentro, querendo nos ampliar na outra.
E foi nessa embriaguez de sono e desejos que, va.ga.ro.sa.men.te
Levantava minha cabeça aconchegada no teu ombro
E ia te molhando o pescoço com meus beijos salivares
Ia assim, sem pressas, a percorrer teu corpo:
Ombros, Seios, Barriga, Ventre, Pernas, Coxas
Até, enfim, chegar à tua cascata
Lugar onde desaguas os teus suores.
Pus a minha língua a ti amparar.
Tu, água, seguia a desabar intensa e forte,
Eu, pedra, a me inundar.
E assim, numa demora que durava duas horas,
Deixava tu me resfriar toda a dureza
Com tuas águas de fogo.

Era sagrado encontro de naturezas.

29.9.14

Esta vida é uma danada:
Dá nada, dá nada
Quando a gente pede tudo
Dá tudo, dá tudo
Quando a gente pede nada
Deixei meu riso atravessar estas estradas
Fui te encontrar
Saí do rio, correndo ao mar,
Ser teu litorâneo,
Te mergulhar.

Fui em fotografia, palavras e miudências
E, espero que
A pequeneza que levo
Não se converta em pretensão

Se eu te vou em fotografia
É porque antes
Te queria um pouco mais perto
E adoraria receber um riso teu aqui

E, caso a música que me guia,
For demasiada para ti
Não me julgues imprudente
É que no infinito em que nos encontramos
Pude nos reconhecer

Eu queria alguma coisa tua, preu abraçar
Pra colocar junto a mim durante o sono
Pra materializar um pouco tua presença
Me afastar um pouco dessa ausência que me transtorna

Eu nunca entenderei essa vida
Nunca entenderei porque as coisas chegam
Se logo voltam a partir.

Manda apenas teu endereço
Vai que dia desses apareço
Feito carta pra te fazer sorrir.

Tu, a essa distância, me faz poesia Abstrata
Poesia Concreta me fazias tu em companhia
Quando rias e olhavas e sentias

Corpos nus
Os nossos
Tais como as caras-ossos
Cheias desse amor de não saber de onde
Nem pra quê

De só saber viver
Para ir aos lugares e executar as tarefas diárias não necessito de vontades, tão somente necessito daquilo que já tenho: pernas e braços.

21.9.14

Confins (Ao Diogo)

LÁ nos confins, na terra que, pra mim, inda se desconhece,
Longe (diante dos pertos da minha cidade)
Surpreendo-me com os caminhos achados,
Pelo mapa traçados nos andares dos pés.

Meio a esses caminhos - sós e acompanhados,
Entrei em rota que era também tua
Nos re-achamos no desalinhado
Ir e vir dos lugares e ruas.

Passado evocado
No tamanho presente de estar ao teu lado
Com a afinação percussiva
De um tambor ecoado.

Vi que na tua parede continua pregado, 
Dos tempos passados,
Um livre sorriso da boca e dos olhos
Que o tempo não corrompeu.

E, nas minhas paredes, 
Cá estão grudados
Os teus lindos sorrisos
E teus olhares achados,
RÉ-encontrados no caminhos dos meus.

8.9.14

Toda doçura e toda loucura me sai pelos olhos
Toda espera e também desespera me sai pelos olhos
Toda admiração e toda inveja me sai pelos olhos
Força e fraquezas me saem pelos olhos
Inspiração e violência me entram pelos olhos
Beleza e enxaqueca me entram pelos olhos
Quem não me quiser inteira, não olhe bem nos maus olhos

4.9.14

Desaproximações

Eu morri a natureza em mim
Eu morri
Fui me desaproximando
Das árvores de mim
Dos pássaros
Dos pântanos
Das cobras
Cor-ais

Coberta de cimento e concreto
Matei a natureza de mim
E, dela distanciada, assim
Nem escuto
Nem vejo
Nem sinto
Os gritos daqui

Ao João Carlos Sampaio

Imaginava ir até Salvador, pra um show da Marcia Castro, ainda esse ano. Imaginava encontrar você por lá, não no show (talvez, até), mas na cidade. Quem sabe até aceitaria teu convite para hospedagem. É João, foi muito efêmero nosso encontro, assim como o é a vida. Mas apesar de tão rápido, sinto certa eternidade de lembrança... você me falando da tua infância e teus gostos pelas raízes. Abraço, João, na imensidão do céu onde você se encontra!

Silêncio Danças Palavras

Nasci no Silêncio
Me criei nas Danças do corpo
Gozo e morro nas Palavras

23.8.14

Quando sinto-me muito viva tenho aproximações com a morte
Eu queria ser eu
- E tu já não és, menina?
Eu queria ser eu
- E tu já não és, mulher?!
- Tu não ainda és menina?
- Tu também já não és mulher?!

19.8.14

Para quando eu morrer

Dos desejos que se tem em vida para a própria morte:

Quero que me toquem fogo!
Quero queimar, arder
Quero um instante rápido de transformação:
Do peso ao pó
Quero, depois de morta,
Não ocupar nenhuma terra, terreno algum
Nem estar presa dentro de uma caixa sufocante
Nem servir de alimento aos vermes
Desesperadamente anseio que me lancem nos ares
E eu possa voar
Me ajuntar ao chão de terra ou ao chão de água
Me dispersar multiplicando-me em partes
Já estive guardada muito tempo durante a vida
E meu trajeto tem sido um constante lançar-se
Pois que minha morte seja o auge do lançamento
Nessa dor da transformação imediata
Quero, na morte, mais um pouco da efemeridade da vida
Acendo-me em chama. Apago-me. Disperso-me.

Tuas Imensidões

Tens cor de infinito
Infinito-azul
Infinito-azul-translúcido
Tens cor

Tens cor de horizonte criado no encontro de mar e céu
Tens cor
Cor de abrandar tempestades no enlevo
do teu enlace

Tens cor de menino a correr pés descalços
Farto em risos e sapequices
Tens cor
Cor de menino azul, infinito rio

7.8.14

Que saibamos não trocar nosso amor por luxúria
Que saibamos que nem sempre as aproximações unem mais que os distanciamentos
E, se for caso de distâncias
Que sejamos íntegros

Poesia Bonita

Porque eu te amo nas tuas datas entranhadas:
Teu dia de chegada a esse mundo.
Tu vieste chorando, a fim de trazer sorrisos
E tu os nutre 
Virtuoso Generoso Frondoso

Eu te cruzei antes, em tuas datas
Antes mesmo de te cruzar em olhares
Eu te cruzei antes, em meu passado
Em alguns vinte e noves de janeiro

E assim... cruzada passado-presentemente-presenteada
Perderei os medos e os modos de não te ter
Afinal, já nos percebemos
Nascemos, foi um prazer!


27.7.14

O vento é uma transparência de azul que nos pinta a alma!

No outro, nos olhos

Outros olhos
Outros olhos
Outros olhos
Aos teus

Outros olhos
Outros olhos
Outros olhos
Aos meus

Outros olhos
Outros olhos
Outros olhos:
Os nós-sós

Do homem sem nome

Chama-se Eduardo
Era tido ali não como um nada,
Mas como um empecilho, obstáculo, atrapalho
Era um bêbado a mais a encher o saco
O grande saco do nosso ego inflado

Chama-se Eduardo,
Mas para tantos de nós é um sem nome, um alguém inominado
Mas, por acaso, deu-se do Eduardo deparar-se com Manél de Barros
Poeta dos ínfimos, dos miúdos, dos insignificantes, dos insignificáveis, dos despropositados
Seres do nada

Deu-se então do Eduardo dizer do Manél:
"Ele fala de nós tudo" (não sei bem se com essas palavras, mas com esse conteúdo)
E num é que
A poesia vinda do Mato,
Se ampliou no encontro com o homem das Ruas,
Esse homem sem nome, que por ser inomeado também é
"A liberdade em trapos"

1.7.14

Aconchegâncias

Quando meu corpo precisa de distâncias
Quero aproximações com o barro

13.6.14

A gente se desacostuma a deixar a água secar a seu tempo, depois do banho.
Toda tecnologia é um tanto grosseira e letal.
Nos condiciona a desaprendermos as outras possibilidades.
Agradeço aos céus ter um chuveiro descoberto, sem teto
Onde banho-me de água, vento, céu e sol.
É quase uma cachoeira, cascata com água que gela, purifica e faz tremer

Tato

Passeio as mãos entre as diversas texturas
Reavivo este sentido, esquecido
Minhas mãos dançam aquilo que eu toco
Minhas mãos dançam junto àquilo que eu toco
E até a parede que aparenta fria, sente
E dança

É sempre um sonho tocar sendo tocada.

8.6.14

Nada além me dói
Nada assim, que dure muito tempo
Nada assim pra que meu ego se demore em ser doído 
Nada assim de pôr tanta grandeza nas miudezas 
Nada me dói para o além
Nem mesmo a dor da existência me tem ferido e demorado
Ela me fere, sangra e logo pára.

Tudo além me tem crescido
Tudo além me tem nascido em riso
Tudo além me tem deixado a-quém
A quem também se queira
Não dez esperar demais

Tudo além, nada aquém, por aqui:
As portas abertas de mim. 

28.5.14

Fogo é meu espírito!

Sou da arte do efêmero
Sou daqueles elementos:
"Terra - é o meu corpo"
"Água - é o meu sangue"
"Ar - é o meu sopro"
"Fogo - é meu espítito"
Sou da arte sem forma
Líquida-Gás-Arenosa
Mudo quando há pés sobre mim
Fluo adaptável quando percorro terrenos diversos
Faço vetania, brisa ou silêncio
Queimo e transformo-me em pó
Cinza

Mas, às vezes, insisto
Isolar o grão, 
Congelar a água,
Retirar o ar,
Prolongar a chama, 
Me desnaturalizar

Ah, como me dói
Não entender minha natureza
Efêmera.

27.5.14

Tua encostadela

Primeiro foi um dedo, chamando-me atenção e para perto
Depois foi um quase sem querer esbarro de pernas
Depois foi um permanecer de toque de pernas
Foi uma quase espontaneidade que te levou a cabeça ao meu ombro
Foi um mesmo dividir e juntar de braços sobre uma cadeira,
Tua invasão.
Foi tua voz em meu ouvido
Foi um toque entre as mãos,
Na disputa de quem aparentava mais frio
Dentro dos corpos quentes.


26.5.14

Amanhecerá um dia que nos desperta o ontem.

24.5.14

À Marcia Castro

É tão bonito já ter uma dependência do teu riso
Já ter uma felicidade habitual
Por ver graça e beleza em você aparecer
Nessas fotos em página azul.
É tão bonito você me colorir os olhos
Me colorir os ouvidos
Me pôr a cantar e sambar,
Marcia.

15.4.14

"Você é tão natureza!"
Gabriela, 15 de Abril de 2014

18.3.14

Engolira o sol
E o sol aparecia por baixo de sua pele
às vezes, ainda, ele se escondia
Por dentro dos seus orgãos
Ela escurecia-se 
Mas, de outras vezes,
Ele irradiava na pele
e nos sorrisos tantos.

2.3.14

Sei que sirvo para preencher teus vazios de alma
E tu, também, muitas vezes, me serviu para preencher os meus vazios de alma
Embora agora eu não busque mais os preenchimentos de ti
Nem muito menos quero preenche-la de mim.
Não mais.
É preciso que te encontres
E que não me uses
É preciso que tua insegurança
Não me queira segurar

Eu emudeço diante de tuas palavras tais
Pergunto-me que diferença faz
Meu silêncio é tão provoca-dor quanto minha palavra a ti
Nenhum deles queres ouvir, de verdade
Então, pergunto-me
Que diferença faz
(Meus ais, os sais, os mais, os tais de mim)

20.2.14

Eu não tenho medo de não ter
Dinheiro para comer
Casa para morar
Roupa para vestir
Eu não tenho medo de morrer
Da falta de matérias necessárias
A fome, a estrada, a nudez
Também fazem morada

16.2.14

Minha lágrima escorre sobre o teu riso frouxo
Não lava o teu mundo, só o meu
Nada do que não é teu pode te lavar
Minha lágrima, que não é tua, escorre sobre o teu riso frouxo
E não me importa que não aja sobre ele
Minha lágrima não tem pretensões tuas nem de ti
É minha, só lava a mim

Se nós não quiséssemos tanto que o outro fosse
Aquilo que a gente acha que ele não é
Estaríamos mais livres 
Dos achismos de todo 'dever ser'
Tiraríamos a obrigação a fim da libertação do ser
Do ser do outro 
E do nosso ser.

14.2.14

Teu corpo fantasmagórico permaneceu no meu, 
sem ti.
Teu corpo passado ainda impede-me
de receber outros corpos.
Outros corpos excitam-me você
Faço lágrimas o que seria prazer
Memória o que seria agora
Pergunto-me:
Quantas águas ainda pra me lavarem você?

Sobre tudo o que não fui e sou

Eu sou uma dança
Na partida e na chegada eu inexisto
Só sou quando
Acontece a dança
Aí estou
Aí concretizo-me, multiplico-me, intensifico-me
Eu sou uma dança
Só aí alço voo,
Passarinho-me no ar do chão

12.2.14

Ele dizia que gostava de igualdades e simetrias. Daí que eu tinha um peito maior que o outro. Ainda assim ele acabou ficando; depois de tempo é que partiu. Partiu do seio pras pernas, das pernas pros joanetes, daí subiu pros olhos, reparou nos lados da boca sorridente, "diferentes!"; no ombro notou a tortidez da coluna em S: "es-co-li-o-se". Deixou-me."Torta!" Alegava-me... 
  
Às vezes, quando meu riso falta, voo até uma foto, pra recuperar.

8.2.14

Descosturas

Vou cortando os fios traçados à agulha
Desfazendo as costuras
Apagando a memória do tecido perfurado.
Corto o lugar do nó
Puxo o fio
Que abre espaço para o vazio no tecido
São furinhos de nada aquilo que fica
Mas distorcem o tecido
E deixam-no com aberturas de respirar
E de entrever o lado em que não se está.
Cada furo é abertura pra saudade e pro futuro.

7.2.14

Cada dia
Tiro de mim
Uma letra tua.
As palavras
Se apagam
Pra eu voltar a me acender

6.2.14

Adoecida

Adoecido o pensamento
Está infectado de desesperança
Não sonha, nem crê
Apenas pesa todo ele
Mas em dado momento 
O pensamento infectado torna-se febril
Quer queimar todo aquele peso que está nele
E aliviá-lo
Eis que sobre o corpo sinto dez esperanças
A me colorir febriamente
E meu corpo pulsa
De ignorâncias já sou farta
Não preciso conhecê-las nas diversas formas que se apresentam em outrem
Conjugo o verbo na primeira pessoa:
"Eu ignoro."
E, de certa forma, 
Preservo-me por não me encher de ignorâncias alheias, 
O que seria duplamente ignorante,
Sendo eu já tão abastada

3.2.14

(Sou mais forte entre risos amigos)

Obscurecimentos do passado

É preciso transformar em mácula tudo que era amor
Depois que o amor passou
É preciso pôr em dúvida se era aquilo amor
Depois que o amor passou
É preciso responder-se que nunca fora amor
Aquilo que se pensava ser amor
É ilusório isso, mas é necessidade
Porque dói menos acreditar 
que não existe amor onde antes já não existia
do que crer que o amor existiu
E passou.

2.2.14

Cócegas no pensamento

Chegas assim tão es pa ça do,
Entre tantos intervalos de tempo
De não me ver
Me descompassando.
Mas meu olhar em fantasia
Te busca em intervalos de tempos tão
menores
Tão maiores são minhas visitações a ti
Sem receios de pensar-te e colher-te
Sem te arrancar do lugar de distâncias.
Mas dia-a-dia, arranco-me do meu lugar de distâncias,
Pra te cheirar

1.2.14

Rima besta

Pus minha roupa mais aconchegante
Meus brincos de elefante
Meu patuá no colo
O pé no passo
Os amigos no abraço
Pra me proteger de ti:
Do teu bem e do teu mal
Valei-me!
Me valeu
Todo o ritual

29.1.14

Sobre tudo

Todo teu riso está esquecido
Todo teu risco também se faz imlembrado
Que sãs e tristes e alegres que são
As não lembranças de ti
E todo meu esquecimento de ti
Esquecimentos são tão belos quanto as memórias
E tão necessários quanto.

26.1.14

Dentro de mim moram muitos...

Aquela oficina me chegou com nome de residência. Nunca soube ao certo o que, em âmbito profissional, essa palavra queria dizer, já que eu sempre a associava a morada. E eis que, sem consular dicionário, compreendo um pouco melhor seu sentido.
Algumas horas dos nossos dias foram dedicadas para que estivéssemos juntos: eus, tus e ele. O que posso dizer dessa minha compreensão nesses poucos dias é que moramos dentro de nós mesmos um pouco mais e fomos também morada e aconchego para o outro. Fomos casa em reforma: desconstruindo-nos; fomos casa em faxina: lavando-nos; fomos, em cada parte da casa, reconhecendo-'nus', ao olhar o outro e ao olhar do outro. Fomos compartilhando-nus; fomos nus um pouco mais. Nossa casa foi uma solidão desnuda e compartilhada. Dentro de mim moram muitos... além dos eus, os tus e o nós.

25.1.14

Queria te cantar em versos
Bailando as letras pretas sobre o fundo branco
Mas meu traçado é um tanto linear e não-acrobático
Ainda assim desejo
Cantar teu riso, teu corpo e teus "cheiros" bons em mim
Cantar toda a efemeridade da nossa primeira dança
Toda a efemeridade da nossa segunda dança:
vestidos e despidos.
Na verdade, gostaria mesmo de te dançar
mais algumas vezes..



23.1.14

Tantos mares e rios e portos
E onde navegar?
Tantos mares e rios e portos
E onde aportar?
Tantos mares e rios e portos
Mas, onde naufragar?
Tantos mares e rios e portos e portas
Onde adentrar?

20.1.14

Muita coisa não tem me cabido
E, mesmo assim, tenho-me torturado
Torturando-me pelo que não me cabe,
Muita coisa deixará de em mim caber.
Tormentos necessários me virão;
Eu os verei;
Caber-me-ão.