Um lenço na cabeça dela, estampado. Lembro apenas de duas cores da estampa: o azul e o verde. E, usava óculos novos, frágeis como ela aparenta ser. E ele, meu vô querido e lindo (como disse Dani), saindo do entorpecimento do seu quarto escuro, onde é sempre noite. Com o vestir de sempre: uma calça social gasta pelo tempo e uma blusa de linho também gasta. Ele que já não tem o que fazer da vida ou com a vida, se abriga na escuridão, no sono, na solidão. São dois companheiros da solidão, companheiros um do outro, são a solidão aconchegante do outro.
São velhos. E lindos.
São o som do silêncio, da traquilidade.
São o tempo em formas concretas.
São arte, são arte.
Mais que isso, acho que são mesmo Amor.
E... são parte de mim ...sou deles
30.4.10
28.4.10
27.4.10
São dez milhares de décadas de repetição. Já não tô suportando ouvir, é melhor mesmo me calar pra não ouvir as coisas de sempre. Pra não descascar a ferida pela bilionésima vez, pra água não rolar, inundando; que já nem tenho força pra nadar contra a correnteza que sempre vem. Dessa vez, deixa tudo quieto e represado aqui dentro que não tô aguentando.
17.4.10
Já não são as mesmas coisas os aniversários em minha família. Pelo menos para mim, que não dou mais presentes, que já não os entrego e nem peço a meu pai dinheiro pra compra do presente da minha mãe, ou vice-versa. E, como é difícil essa realidade. Dura, não?! É duro, onde faltam abraços, carinhos e palavras, faltarem também presentes na data do aniversário. O presente era o meu "eu te amo" do ano, era um pouco de voz duma alma silenciosa dirigida a outra. E agora, sem presente, sem essa voz concreta que se fazia graças ao presente, resta amor? Resta amor ainda, claro, falta demonstração. E, adianta algo o amor sem demonstração? Eles sentem meu afeto no meu abraço (não tão forte pela ausência do costume) ou nas palavras clichês ditas por todos e a todos nos aniversários? Será que isso basta?
E o presente bastaria?
E o presente bastaria?
14.4.10
13.4.10
Conto meus desencantos pra ninguém ouvir. E falo e ouço sozinha sempre. E de certo que me importo, pois do contrário não precisaria desabafar comigo mesma. Mas, minha solidão me faz companhia e me compreende sempre, estou me acostumando a ela. Estou me acostumando a não ser vista nem ouvida nessa multidão. Preciso aprender a me bastar. E, não quer dizer que eu seja prepotente. É mecanismo de defesa, apenas isso; estratégia de sobrevivência.
12.4.10
Sempre me passou a ideia de que eu era uma criatura pacífica, harmoniosa, vivendo em um estado de paz quase constante com as outras criaturas do mundo; mas não. Era ingenuidade demais me crer assim. Agora eu percebo que realmente não havia conflitos, grandes ou pequenos, não havia muitos conflitos entre mim e outras pessoas; e tomava isso por estado de paz. Contudo, vejo que um estado harmonioso passa além de uma ausência de conflitos. Não há conflitos entre aqueles que não se tocam, muito menos harmonia ou paz. Percebo que essa ausência de embate é ausência gigante que tive/tenho com relação ao outro; é a insensibilidade à presença do outro; é, por vezes, indiferença.
11.4.10
Diz-se choro preso na garganta.
É a tristeza querendo cair e me enublar, como as nuvens ao meu sertão. Quer-se chover aqui. E, não há resto de calor. É vento. Vento frio e um ruído triste e um sol escondido pelas nuvens. E tem águas presas nas nuvens e tem o cinza. Eu tenho só o cinza. Eu quero chover, mas só estou enublada. Sou nuvem cinza, mas seca por dentro.
É a tristeza querendo cair e me enublar, como as nuvens ao meu sertão. Quer-se chover aqui. E, não há resto de calor. É vento. Vento frio e um ruído triste e um sol escondido pelas nuvens. E tem águas presas nas nuvens e tem o cinza. Eu tenho só o cinza. Eu quero chover, mas só estou enublada. Sou nuvem cinza, mas seca por dentro.
8.4.10
A dignidade de viver não se arranja nas calçadas fora de casa. Se arranja nas relações mais íntimas, com portas de casa abertas. Mas é tão difícil essa dignidade de portas abertas, no entanto, é a única dignidade aceitável. Não se vender, não se prostituir é tão difícil. E, a cada porta batida eu me prostituo. Vendo minha dignidade por um pedaço de atenção e de relação, mas a relação que tenho é promíscua e míserável.
Não vale a pena fechar portas tentando esconder a obscuriedade de suas relações, não adianta. Toda obscenidade aberta, mostrada, é muito mais digna.
[pra mim: então, Se exponha!]
Não vale a pena fechar portas tentando esconder a obscuriedade de suas relações, não adianta. Toda obscenidade aberta, mostrada, é muito mais digna.
[pra mim: então, Se exponha!]
Há tempos não visito os meus baús, não os reviro. Sem qualquer pretensão grandiosa, aproximo-me de um deles e o abro, deixando exalar dele o cheiro do mofo. Procuro algo que não sei o que é, alguma coisa que possa me ser útil nesse presente. Caminho com meus dedos e mãos entre as ruas, travessas, becos e esquinas do meu baú, e pra ser sincero, nem percebo que meu baú é uma encruzilhada; passo por ele tão desapercebidamente! - é um trajeto que percorro sem ver, só no tatear. Mas meu tato é tão cego quanto meu olho.
Reparo agora, no entanto, na aridez e na poeira, oriundos desse tatear e minhas mãos estão impregnadas de pós (na verdade de prés). Sacudo-as fora do baú e as partículas de prés ficam em suspensão e ascendem e impregnam também o quarto, as partículas de prés se colam nas paredes do meu quarto e o amarelo de estradas percorridas está na palma das minhas mãos.
Reparo agora, no entanto, na aridez e na poeira, oriundos desse tatear e minhas mãos estão impregnadas de pós (na verdade de prés). Sacudo-as fora do baú e as partículas de prés ficam em suspensão e ascendem e impregnam também o quarto, as partículas de prés se colam nas paredes do meu quarto e o amarelo de estradas percorridas está na palma das minhas mãos.
É como se eu quisesse começos intermináveis, que a minha vida fosse repleta de começos, pois não consigo dar continuidade. Tudo que é contínuo me é avesso. E, apesar da morte, a vida é contínua e, portanto, até à morte a vida me será avessa.
Eu queria a realização de um desejo que creio impossível: que a vida me fosse feita de princípios e só. Na verdade, poderia ser feita de princípios e fins. O que não suporto é o meio, o trajeto a percorrer, a continuidade; isso não suporto. E... não é que eu não queira... simplesmente não suporto!
Eu queria a realização de um desejo que creio impossível: que a vida me fosse feita de princípios e só. Na verdade, poderia ser feita de princípios e fins. O que não suporto é o meio, o trajeto a percorrer, a continuidade; isso não suporto. E... não é que eu não queira... simplesmente não suporto!
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