23.12.13

Principi.ação

Empurro-te do abismo de morte, estagna.ação. Nesta queda precipita-se a vida, emoção. Das lonjuras de mim, às aproximações de ti mesma, imersa. Em toda queda, há princípios de origin.ação. Em cada precipício busca-se todo o início, principi.ação.

27.11.13

Vontade de ir adentrando em terra úmida, afim de descansar meu corpo febril.
O quanto muda, se eu disser que eu quero? Eu quero casar com você, eu quero cozinhar com você, quero nossa companhia dos dias de bem. Eu percebo agora que é disso que eu tenho medo, tenho medo de apostar em nós e perder. Tenho esses medos bobinhos de morrer de fome, já ouvi muitas conversas de que "ninguém vive de amor". Mas eu nunca me adequei a esses julgares da maioria, eu tenho ido apostando nas coisas em que acredito, eu tenho tido coragens. Eu sei que se tudo for e se nós morarmos precisaremos de muita força e coragem pra nos manter e sem comodismos, pra nos manter e sem conveniências. Se eu disser que eu quero, ao menos uma coisa muda, eu. Não é de casa que eu to falando, é de crença. Me devoto a uma vida que, às vezes encontro contigo, uma vida mais miúda, mais de silêncio, mais de cumplicidade, uma vida de menos medos e até, quem sabe, de menos cobranças.

Pra você, Flor

23.11.13

Abro as pernas, tenho-te entre elas
Tua boca em mim passeia, insaciada,
insaciável
Abro as pernas, mas tu não me chupas
Tu lambuza a todas aquelas que eu não sou
E que tu não tens, ainda, de pernas abertas
Mas que, ardentemente, desejas
Abro as pernas desejando
Multiplicar-me em outras
Para que teu desejo de mim sacie
Por ter as outras
Em meio de mim
Abro as pernas e sou
Aquela que durante dois anos você chupou
a que há três meses te negou
a que há um mês, te doou.
Sou todas elas,
tenho todos os sabores no meio das pernas
Sou aquelas, sou elas, não me sou. Ou sou?
Mas que bobagem tudo isso
Querer ser todas pra que tu te reduzas a mim, em mim
No entanto, eu sei,
meu gosto é somente um,
tua boca, de especialidades gastronômicas

4.11.13

Buscando descanços (Lembranças de uma Lavoura Arcaica)

Há dias em que quero me plantar embaixo de um pé de árvore, num solo úmido, pras quenturas do corpo (ou serão da alma?) se esvaírem. Uma terra úmida, acolhendo-me, esfriando-me com todos os seus sons silenciais. A natureza pede tempo-demora-ternidade. E a gente vive nesse passo-morto-veloz.

15.9.13

Entre os descaminhos, os encolhimentos sofridos, as imposições do limitar-se, agora eu entendo. Eu entendo toda essa minha ira de girtar "eu não sou bicho não, eu não sou bicho não!", inda que, em sua maioria, bicho seja mais humano que gente; é só por falta de outras palavras que contraponho um ao outro. Mas agora eu entendo essa minha loucura de ser infinito, agora entendo. Minto - agora eu sinto. Agora eu sinto que realmente eu não quero a loucura de ser humano fabricado, humano desumanisado. Não quero a limitação que deus me deu.   

11.8.13

A morte assalta-me, assusta-me. 
A morte, tão eu, entristece-me.
A morte angustia-me. 
A morte me faz pensar as mesquinharias da vida. 
A morte menospreza-me, ironiza-me, indistingue-me.
A morte mata todas as nossas vaidades
E, às vezes, as esperanças todas.
A fraqueza que aprendo com a morte, fortalece-me. 
A morte, humaniza-me. Ou seria, animaliza-me?

24.7.13

Por não ser inteira

Eis que hoje me cobro essa parte que me arrancaram. Estas partes. Segmentaram-me. As partes que ainda me compõe não me bastam, não me abastam. Me ausenciam com forte presença. Anularam-me a inteireza. Cortes, Re-cortes, edições, me configuram, me reconfiguram, atualizam-me. Mas há em mim passado que me tiraram. Esse passado, não atualizado, ausencia-me, grita-me, chama-me, julga-me: Incompleta! Irrepleta! Esbelta!

8.6.13

Das liberdades

Ciúmes é trancafiação, é aprisionamento, é ditadura. 
Não me deixes te ditar
Que também não quero que me dite
E nem quero me ditar. 
Toda ditadura que exerço sobre ti
É também ditadura que exerço sobre mim

Agora me vejo bebê, recémnascida
Só estou nua e livre
Meus pés patinam o ar

E que eu te entenda também assim, nascida agora, recém
(Sem trocadilhos com refém)
Nua e livre 

Exercer ditaduras me cansa
Te cansa
Nos câncer

30.5.13

Fé cênica

Essa arma do olhar vigora, demora, convence
Essa arma do olhar atira, fere, abala
Essa arma do olhar é firme
E cá por dentro? Por dentro do olhar?

Como tanta oquidão pode preencher?
Como tanta insegurança pode segurar?
Qual o milagre da transformação?

Da água ao vinho, 
É da transparência que nasce a cor. 

4.5.13

Esculta

Tira essa amargura do peito, menina. Tira essa vontade gritante de ser infeliz, tira todo esse peso, toda essa dor, todo esse desamor, menina. Joga fora os pensamentos sobre o não ser, você é. Você é, não tenha medo de não ser, você é. Seja leve, menina, não te culpes por tua leveza. Às vezes te esqueça, menina, às vezes te esqueça. 
Cresça no seu tempo, menina, mas cresça. Caminhe passinho por passinho, assim mesmo: pequenininho; mas cresça e vá adiante. Vislumbre, menina, vislumbre teu deslumbre, vislumbre. 
Não se guarde, menina, não aguarde a prontidão para despontar, não aguarde a perfeição para praticar. 
Se cante, se beba, se regenere, se gere, se parta sem precisar partir. 
Destrua os muros, menina, que afastam teus abraços, que te encimentam, que te engessam. 
Receba, menina, todo amor que houver nessa vida. 
Se lua, menina, se lua. Se sol, se rio, se ria, se mar. 
Se ame, menina, e comece por se amar nas imperfeições.
Se aperfeiçoe na vida, menina, se seja.

12.4.13

Não toque

O mundo não é a sua casa, menina, a realidade é bem maior que isso, ainda que nasça em sua casa. Mas o mundo tem... o mundo tem outras calçadas, outras ruas, outras gentes, menina. O mundo tem outros aconchegos e outras violências. Tem outro cheiros e odores. O mundo não é a sua casa, menina. No mundo tudo se compra e se gasta, tudo é um real ou mais, sua vida se compra: é um pão, é um chão, é um teto. O mundo não é a sua casa, menina, o mundo é bem mais concreto.

2.4.13

Acabo de assistir o filme Tropa de Elite 2, que passou na Globo (contaditório, mas...) e ando mexida, querendo escrever sobre isso, mesmo sem conhecer. E conhecimento é, talvez, o ponto de partida de tudo isso. Conhecer  é tirar o véu,  descobrir, descortinar, saber o que está por trás: dos discursos, dos fatos, dos aparatos. Conhecer é também sentir dor, é querer desconhecer realidades cruéis que é a minha e a sua. Conhecer é optar por não ouvir uma música que me distráia após a abertura dos meus sentidos para uma realidade mais crua e dolorosa.
Senti vontade de morrer ao assistir o filme, não, não como um mártir. Mas morrer por nojo desse mundo rato, pestilento, leproso. Morrer pra não conhecer, porque viver já parece ser compactuar. E fico a me perguntar quantas forças terei pra conhecer. Quantos olhos terei para enxergar e querer sempre enxergar mais profundamente. Dói ser, dói enxergar.
Ver que essa peste é grande, é forte, é material, é concreta, e meus pensamentos tão abstratos que força hão de ter?! Qual força tem minha voz em poesia perante tudo isso? Que força tem meu sorriso, meu instinto de auxílio e de justiça?
Eu vou cantar, vou cantar a arte pra descompor a vida, vou cantar a arte pra contrapor à vida, vou cantar a arte pra não morrer em vida, porque essa vida eu não quero, não aprecio, não compactuo. Não quero estar armada, não quero um R de rato a compor o meu nome; amada é bem melhor.
Ah, grandes homens vermes, de tamanhas sofisticações e elegâncias mesquinhas, não derramo lágrimas por voz, vou cantar as plantas que nascem das pedras, quanto a vocês rochedos fortes, o tempo tratará de transformá-los em pedregulhos. Eu, por mim, me quero mais leve e viro logo pó e adubo, INFÉRTEIS!

18.3.13

Seduções

Primeiro foi tua língua
versando sobre tantas (coisas)
que me seduziu

Segundo foi tua língua
a me tocar a boca
que me seduziu

Terceiro foi tua língua
me percorrendo toda
que me seduziu

Agora é tua língua
que versa, que mexe, que dança
que me seduz io


17.2.13

Tua cor, Branca,

Se forma de arco-íris
Tua cor, Branca,
Nunca é monocromática
Tua cor, Branca, 
É azul, é vermelha, amarela, verde, violeta, laranjada 
Tua cor, Branca, 
Bandeira hasteada

18.1.13

Acesa

Não era nos meus sonhos que eu te encontrava
Era na abertura do meu sono
Dormia e
Acordava com você sussurrando sua presença ali
Aqui


15.1.13

Pra não se (vi)ver

E eis que me pergunto: para quê ter tanto amor guardado se ele não está derramado?

11.1.13

Casa

Construo uma casa que é minha e que é sua. Nas paredes estão tatuados aquele Calvin e Haroldo que descansam no seu braço e preenchem a casa até você voltar.
Te espero chegar de viagem. Uma comida boa na tua esperança; uma cama limpa na tua esperança; um coração alegre na tua esperança. 
Na tua esperança eu me encontro com braços de abraçar,  boca de beijar e olhos de sorrisos. 


6.1.13