28.10.14

Olhos sãos
Vão além da ilusão promovida pela vontade de enxergar.
Quem quer enxergar nada vê
Pois tudo é carregado de esforço
E o esforço corrompe a visão,
Faz contornos de ilusão.
Fecho meus olhos,
Olhos são.

27.10.14

Do nosso próximo encontro

"eu ainda te espero chegar"

Percorrerei as minhas mãos sobre tuas letras
Sentirei o relevo dos teus escritos
E, antes de percorrer meus olhos sobre a tua alma,
Uma parte de mim já estará saciada
Farta de pão caseiro e água.


20.10.14

Minhas mãos são guardadoras de muitas memórias, de tantas histórias, elas são. Minhas mãos tem mais coração e memória do que meu peito. E é por elas que sei das saudades que tenho. Neste momento sentem saudades de ti. Minhas mãos desejam redescrever você em mim, ouvir novamente teus relevos, sorver tuas texturas, te reimprimir em mim.
Eu queria ser casa em meio ao campo
Pra te amanhecer com a luz de um sol ameno e claro
Quando tu quisesses fugir das claridades noturnas das cidades

Eu queria ser casa no campo
Pra te abrir as tranquilidades
Quando teus desassossegos chegassem

Eu queria ser casa limpa
Pra te cobrir de aconchego
Quando procurasses descansos pro corpo e pra alma

Eu queria ser casa na noite serena
Pra te oferecer o céu noturno e as chamas de fogueira
Quando te quisesses ampliar

Eu queria tão somente
Viver bonita e alegre
Pra tu quereres sempre voltar a me habitar

Queria que chegasses logo
Pra que eu te abrisse e passeasse minhas mãos por teus escritos,
Pra que eu sentisse tuas impressões
Tuas aproximações

Mas haverá o tempo de tu me chegar
E, ainda que se extravie pelo caminho,
Agradecerei e amarei meu destino
Pela eminência que sempre existirá
De um dia tu me chegar

16.10.14

Guardo os teus olhos
Dentro dos meus

Não importam os anos
Reencontrarei o teu olhar

Minha alma se inundará
Transbordando as águas
Que nos lavará todas as distâncias

2.10.14

Teu sagrado sexo (à M.)

Ó, flor, hoje fiz amor contigo
Na verdade prefiro chamar a isso sexo sagrado
Demorava-se o nosso encontro de corpos
Inicialmente era o meu corpo nu
Sobre o teu corpo nu
Descascados e descansados, como que a entrar no aconchego do primeiro sono
Era nessa despretensão de amor que, intimamente, nossos poros iam dando vazão aos nossos aquecimentos de dentro, querendo nos ampliar na outra.
E foi nessa embriaguez de sono e desejos que, va.ga.ro.sa.men.te
Levantava minha cabeça aconchegada no teu ombro
E ia te molhando o pescoço com meus beijos salivares
Ia assim, sem pressas, a percorrer teu corpo:
Ombros, Seios, Barriga, Ventre, Pernas, Coxas
Até, enfim, chegar à tua cascata
Lugar onde desaguas os teus suores.
Pus a minha língua a ti amparar.
Tu, água, seguia a desabar intensa e forte,
Eu, pedra, a me inundar.
E assim, numa demora que durava duas horas,
Deixava tu me resfriar toda a dureza
Com tuas águas de fogo.

Era sagrado encontro de naturezas.