23.7.12

Não olheis o meu passado, mas a fé que afirma vossa presença

Minha Senhora, não temais o meu passado nem te enciumeis se ele tem beleza, outros carinhos, outros cuidados. Minha Senhora, não vos entristeçais; que rezo ao meu passado somente por um carinho de vida e de memória. É para vós que, diariamente, meu coração acende as velas.

9.7.12

Se demore

Há tempos ando buscando alguém que se demore em mim. Buscando alguém a quem eu possa me demorar também, querendo a velocidade das tartarugas, não a dos mísseis¹. E que você, menina, me devore e se demore² e que eu, menina, te devore e me demore.

¹ - um pouco do Manuel de Barros (Prezo a velocidade das tartarugas mais do que a dos mísseis)
² - um roubo dos Tribalistas (deita no meu peito e me devora... deita no meu peito e se demora)

6.7.12

Foi Beatriz quem perguntou

"E a água não morre quando seca e não volta a viver quando chove?" E eu não pude discordar da sua sabedoria e poesia.

"Sim, me leva para sempre, Beatriz/Me ensina a não andar com os pés no chão/Para sempre é sempre por um triz/Ah, diz quantos desastres tem na minha mão"

Quando um Eduardo bate à porta...

Quando um Eduardo bate à porta... Não se chama Eduardo. Eduardos chegam atrevidamente, desordeiramente, cheios de rabujices e espaços intocáveis. Quando um Eduardo bate à porta é sempre sem crase, é direto: bate a porta! É muito difícil lidar com Eduardos, tão difícil quanto é fácil amá-los quando, lentamente, começam a abrir as portas.
É que nesses dias concretos, e também noites, o céu esbarra numa parede, deixando de ser céu porque sua imensidão diminuída diminuiu seu ser.